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Para moradores, Bucha de Sena tinha exército e fazia trabalho social

 

O homem morto por policiais militares num confronto no bairro da Santa Mônica, em Salvador, no último sábado (9), não era apenas um dos principais traficantes da região, incluindo a Liberdade. Ricardo Rodrigues de Souza, 29, o Bucha de Sena, comandava um verdadeiro exército do tráfico, segundo moradores da região.

Informações diz que Bucha de Sena comandava mais de cem “soldados”, que atuavam distribuídos de forma estratégica pelas áreas da Santa Mônica e Liberdade, gerenciadas por ele.

Segundo testemunhas, a linha de frente de combate era composta por homens mais jovens. A mesma testemunha acrescenta ainda que, mais à frente, ficavam homens de outros escalões, em locais considerados quartéis, para reforçar a guarda. Aqueles que ocupavam níveis mais altos na hierarquia da facção ficavam posicionados mais distantes da linha de combate.

“O Tampão perdeu um chefe barril, um líder sem igual. Ele não mandava recado, mas também não oprimia ninguém aqui na comunidade. São mais de cem soldados dele”, explicou um morador da região, que preferiu não se identificar.

Robin Hood
Mesmo apontado pela Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) como autor de mais de dez homicídios, a morte de Bucha de Sena foi sentida pela comunidade. Anteontem, uma hora antes do enterro do traficante, a polícia flagrou um homem pichando um muro com a frase “Saudade de Bucha de Sena” na localidade da Boa Fé,  em Pero Vaz. Ele foi ouvido na 2ª Delegacia (Lapinha) e liberado.

Segundo o titular da unidade, o delegado Luiz Henrique Costa, o homem, 27 anos, que não teve o nome revelado, foi solto porque pichação não é considerado crime. “Mas o pedido de prisão será encaminhado à Justiça, porque é apologia ao crime”, disse.

Há, ainda, relatos de que o traficante distribuía presentes para a comunidade. “Era sangue bom. Fazia festa para as crianças, distribuía móveis, pagava contas. Ele fazia muito pela comunidade. Quem oprime aqui é a polícia e o ‘alemão’. Eles sim, entram aqui fazendo o que querem. Bucha dava ordem aqui, ele dizia ‘aqui ninguém atira contra a polícia, a não ser que algum de nós caia’”, conta outro morador, também sob anonimato.

No entanto, de acordo com o delegado Alexandre Ramos Galvão, da 1ª Delegacia do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Denarc), o trabalho “caridoso” feito pelo traficante era, na verdade, parte do jogo do tráfico. “É verdade, há notícias de que ele fazia um enorme papel social. Por um lado ele aterrorizava e, por outro, tentava fazer esse trato social distribuindo presente. É um trato social não piedoso, mas a título de comprar silêncio. É importante para o tráfico”, explica.

Questionado sobre festas promovidas com  carga de cerveja e carne roubada de açougues, o delegado Alexandre explica que o objetivo de Bucha de Sena era se capitalizar com o produto. “Não era só o tráfico, mas qualquer crime contra o patrimônio, como roubo de cargas, transportes de bebidas, caminhões de cigarros, eletrônicos e carros na região. Ele fazia isso para se capitalizar. Todas as vezes que perdia combates, recuperava dessa maneira, com  crimes contra o patrimônio”, diz.

Luto
Anteontem, dia do enterro do traficante, circulou na Santa Mônica um boato de toque de recolher e parte do comércio fechou. Além disso, no final de semana, os ônibus pararam de circular no bairro. Apesar disso, comerciantes descartam  o toque de recolher e apontam que o comércio fechou as portas em luto.

“Era querido por todo mundo aqui. Não existe isso de toque de recolher. Nós optamos por fechar, não é obrigação, é por uma questão de luto e escolha nossa. Uma forma de respeito”, informou o proprietário de um armarinho no final de linha do bairro.

“Era meu filhão, ajudava muito a gente. Nunca fui assaltado em anos aqui com meu negócio. Não tem isso, todo mundo pode dormir de porta aberta”, contou um outro comerciante, sem se identificar.

Ao mesmo tempo em que os moradores listam as “boas ações” do traficante, também lembram de ocasiões em que ele agiu duramente. Em uma situação, eles lembram que Bucha de Sena raspou cabeça e as sobrancelhas de mulheres da vizinhança, que teriam traído sua confiança e levado informações para bandidos rivais.

FONTE : CORREIO