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Uso prolongado de melatonina pode estar ligado a maior risco de insuficiência cardíaca e morte

Uso prolongado de melatonina pode estar ligado a maior risco de insuficiência cardíaca e morte

03/11/2025 às 15h44 Atualizada em 03/11/2025 às 18h44
Por: Redação
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Foto: Reprodução
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Um estudo recente, apresentado nesta semana no encontro científico da American Heart Association (AHA 2025), sugere que o uso de melatonina por períodos prolongados — especialmente em pessoas com insônia crônica — está associado a um aumento do risco de diagnóstico de insuficiência cardíaca, hospitalização por essa condição e mortalidade por qualquer causa. 

O que mostrou o estudo

A investigação analisou registros de saúde de dezenas de milhares de adultos que apresentavam insônia crônica, comparando aqueles que fizeram uso de melatonina prescritiva por ao menos 1 ano com os que não tinham registro de uso.  Os resultados indicam que, no grupo de usuários de melatonina, houve incidência maior de novos casos de insuficiência cardíaca, bem como de hospitalizações por essa condição e de óbitos por qualquer causa, no acompanhamento de cerca de cinco anos.  Um dado ilustrativo: a incidência de nova insuficiência cardíaca foi aproximadamente 4,6% no grupo de melatonina, contra cerca de 2,7% no grupo não-usuário — uma elevação de cerca de 90%.  Os pesquisadores alertam que o estudo é observacional, ou seja, não pode provar que a melatonina causa insuficiência cardíaca ou morte — apenas que há uma associação. 

Por que isso gera preocupação

A melatonina é frequentemente vista pelo público como um “auxílio ao sono natural” e relativamente segura para o uso prolongado. No entanto:

Embora haja dados de estudos experimentais que apontem efeitos cardioprotetores da melatonina (como redução de fibrose cardíaca, efeitos anti‐oxidantes, etc.), esses dados vêm sobretudo de modelos animais ou pequenos ensaios clínicos de curto prazo.  A nova associação alerta para uma lacuna: os efeitos a longo prazo da melatonina em níveis populacionais ainda são pouco compreendidos. Para pessoas com risco cardiovascular, o uso prolongado de melatonina pode exigir reavaliação ou acompanhamento médico mais rigoroso.

Limitações do estudo e o que os especialistas dizem

A classificação “usuário de melatonina” baseou-se em registros de prescrição ou de uso documentado – em muitos países, a melatonina está disponível sem prescrição, o que pode levar a sub-relato ou erro de classificação.  O estudo não detalhou a dosagem exata da melatonina, frequência ou variações individuais de uso.  Criticamente: a insônia grave e crônica — condição dos participantes — já é um fator de risco para doenças cardiovasculares. Ou seja, não está claro se a melatonina é causa, se o sono ruim ou se ambos agem em conjunto. Especialistas pedem cautela para interpretação.  Por fim, sendo estudo preliminar (abstract apresentado em congresso), ainda falta publicação revisada por pares com dados completos. 

O que isso significa na prática

Para médicos e pacientes, algumas recomendações práticas emergem:

A melatonina não deve ser encarada como totalmente isenta de riscos apenas porque é “natural”. Antes de usar melatonina por longos períodos, especialmente se já houver fatores de risco cardiovascular (como hipertensão, doença coronariana, insuficiência cardíaca preexistente), é aconselhável conversar com o médico. O foco no tratamento da insônia não deve recair apenas em suplementação; terapias não-medicamentosa como higiene do sono, terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I) são fundamentais. A dosagem, duração do uso e monitoramento devem ser ajustados conforme o quadro clínico individual.

Para o público brasileiro

Embora o estudo tenha sido realizado em base internacional (e com prescrição de melatonina), no Brasil a melatonina também pode ser utilizada — seja como suplemento ou medicamento — e a população deve ficar atenta. Se você está fazendo uso contínuo de melatonina por muitos meses ou anos, vale revisar com seu médico: será que o uso é ainda necessário? Existe melhora suficiente da insônia? Há acompanhamento de saúde cardiovascular ?

Conclusão

Mesmo com limitações, o estudo levanta um sinal de alerta importante: o uso prolongado de melatonina pode estar associado a risco aumentado de insuficiência cardíaca e mortalidade em pessoas com insônia crônica. Isso não significa que “a melatonina mata”, mas sim que seu uso não está isento de consequências e exige reflexão clínica mais cuidadosa.

Para o futuro, são necessários estudos randomizados, controlados e de longo prazo para definir se há causalidade, quais os mecanismos, quais os subgrupos de maior risco e qual a dose/duração segura ideal.

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