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Em discurso agressivo na ONU, Bolsonaro ataca países e nega destruição na Amazônia

Embora tivesse prometido um discurso conciliatório, o presidente Jair Bolsonaro abriu nesta terça os debates gerais da 74ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) com ataques indiretos a outros líderes internacionais, duras críticas a Cuba e Venezuela e alerta quanto à “ideologia” que busca um “poder absoluto”.

Logo no início de seu discurso, Bolsonaro disse que vinha “apresentar o novo Brasil que ressurge depois de ter ficado à beira do socialismo” e que seu governo tenta reconquistar a confiança do mundo.

— Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou em uma situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições — disse o presidente.

Ele citou como exemplo o Mais Médicos, assinado em 2013 entre o “governo petista e a ditadura cubana”, definindo o programa como “trabalho escravo”, o que levou a delegação cubana a deixar o recinto:

— Antes mesmo de eu assumir o governo, quase 90% deles (médicos cubanos) deixaram o Brasil, por ação unilateral do regime cubano. Os que decidiram ficar, se submeterão à qualificação médica para exercer sua profissão. Deste modo, nosso país deixou de contribuir para a ditadura cubana, não mais enviando US$ 300 milhões todos os anos.

Segundo Bolsonaro, “após sobreviver a duas décadas de irresponsabilidade fiscal, aparelhamento do Estado e corrupção generalizada”, a economia brasileira começa a reagir, dando como exemplo o recente acordo fechado entre o Mercosul com a União Europeia e o início do processo de adesão do Brasil à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Bolsonaro, que protagonizou um recente bate-boca público com Emmanuel Macron, logo abordou também a questão da Amazônia. Saudando a índia Ysany Kalapalo, que levou em sua comitiva, ele não citou diretamente o nome do presidente francês e da chanceler alemã Angela Merkel, que na reunião do G7 criticaram a atuação do Brasil na questão, mas rechaçou seus ataques.

— Problemas qualquer país os têm, Contudo, os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional devido aos focos de incêndio na Amazônia despertaram nosso sentimento patriótico — afirmou. —  É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da Humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo. Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista. Questionaram aquilo que nos é mais sagrado: a nossa soberania. Um deles por ocasião do encontro do G7 ousou sugerir aplicar sanções ao Brasil, sem sequer nos ouvir.

O presidente disse ainda que enquanto França e Alemanha usam mais de 50% de seu território para agricultura, o Brasil usa apenas 8% para produção do alimento. Bolsonaro destacou que 14% do território do país são compostos por terras indígenas e descartou aumentar a proporção para 20%, “como alguns chefes de Estados gostariam que acontecesse”.

Bolsonaro lembrou também que o Brasil tem 225 povos indígenas e 70 povos isolados, de forma que a visão de uma liderança, como o cacique Raoni, que participou da reunião do G7 em agosto, não deveria representar a de todos eles. O presidente também novamente acusou pessoas dengtro e fora do país e ONGs de tentarem manter os índios brasileiros como “homens das cavernas”.

— Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia. Acabou o monopólio do senhor Raoni — disse. — Nossos nativos são seres humanos, e merecem usufruir dos mesmos direitos de que todos nós. Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas

Bolsonaro também atacou o que chamou interesses externos “disfarçados de boas intenções” na questão da Amazônia, afirmando que “qualquer iniciativa de ajuda ou apoio à preservação da floresta deve ser tratado em pleno respeito à soberania brasileira”.

 

O Globo