Na semana passada, o Ministério da Educação (MEC) assinou uma parceria com a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). O evento contou com a presença da primeira-dama da República, Michelle Bolsonaro. No programa, a Fundaj vai disponibilizar 20 filmes nacionais com produção de acessibilidade comunicacional, o que inclui fone com audiodescrição para cegos e pessoas com baixa visão, além de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e legenda para surdos e ensurdecidos.

Já para os cegos, a proposta é possuir entradas com maquetes em braille. Isso facilitaria a identificação dos lugares e das saídas de emergência.

O anúncio do tema foi feito pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, pelo Twitter, diretamente de um colégio militar em Palmas (TO). Somente após a publicação de Weintraub o tema foi divulgado nas redes do MEC e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), como tem sido feito nos últimos anos.

No ano passado, antes da posse, Bolsonaro chegou a defender que a prova passasse por uma “avaliação” antes da aplicação, uma vez que o exame, na sua avaliação, “estimulava a briga entre pessoas que pensam diferente”

Tema ‘assusta menos’

Para Rafael Pinna, professor de redação do Colégio de A a Z, o tema de redação do Enem 2019 tende a ser mais fácil para os vestibulandos por ter sido mais abrangente do que o dos anos anteriores.

— No ano passado o tema não era sobre redes sociais, mas sim sobre questões relacionadas a algoritmos. Para a maior parte das pessoas era um assunto de menos contato. O deste ano assusta menos — explica Pinna. — Nos últimos dois anos, o tema tinha recorte muito específicos. Em 2018, não era sobre redes sociais, e sim sobre a questão dos algoritimos. Para a maior parte das pessoas era um assunto de menor contato — completou o professor.

Pinna considera que o aluno deve explicar por que o cinema não está acessível para um público amplo:

— Isso tem a ver com uma questão socioeconômica. A lógica do cinema acaba obedecendo a uma demanda econômica. Na maior parte das vezes, o cinema tem se tornando uma atividade cara. Na tese, o aluno deve perceber que existe uma importância do cinema e explicar que ele não está democratizado.

A professora de redação da Escola Eleva e da Plataforma Eleva Carolina Pavanelli diz que adorou o tema da redação porque o exame nunca havia abordado uma manifestação artística.

— É a primeira vez que o Enem aborda arte. Era pouco provável, o que é muito bom porque todo mundo fica tentando adivinhar e, assim, pega os alunos que realmente estavam preparados para discutir qualquer temática e não só quem estava preparado para um tema específico — afirma a professora, que é, justamente, formada em Cinema.

Carolina Pavanelli diz que a tese depende muito dos textos motivadores, mas considera um caminho possível discutir como levar a arte às diversas classes sociais, já que o cinema, “como muitas manifestações artísticas no Brasil, sempre foram direcionadas a uma elite”. Para ela, o foco deve ser, sobretudo, a questão da democratização.

Quem vai na mesma linha é Thiago Braga, professor de português e redação do Colégio e Curso pH, para quem o debate é importante para romper com a elitização do acesso às artes no país.

— Achei o tema muito importante para realidade do Brasil, que elitiza muito o acesso das artes em geral. A gente precisa discutir esta necessidade das artes. O cinema que tem mais apelo ao público deve ser mais democratizado e o acesso a ele deve ser garantido. O cinema tem o poder de educar, entreter e desalienar — pontua Braga. — Este tema é mais acessível para os alunos, porque eles provavelmente já discutiram sobre a importância das artes no Ensino Médio. E o cinema é uma das artes as quais eles mais tem acesso. É muito importante ver a nossa juventude discutindo um assunto como este.