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Menor orçamento para a Defesa em 15 anos frustra alta cúpula militar

No momento em que, pela primeira vez desde a redemocratização, os militares conquistaram espaço político inédito no governo federal, a previsão é que o Ministério da Defesa tenha, no ano que vem, seu menor orçamento em 15 anos. O aperto provoca insatisfação entre integrantes do alto comando das Forças Armadas. Com o presidente J air Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão , egressos do Exército, a expectativa entre os militares era que, mesmo em um quadro de ajuste fiscal, seus projetos fossem considerados estratégicos para o país.

Os recursos previstos no Orçamento da União de 2020 para as principais ações da área militar registraram queda média de 35% em relação a este ano. Em 2019, a previsão é que esses programas consumam R$ 4,1 bilhões. No ano que vem, o governo estima os gastos em R$ 2,6 bilhões. Entre os mais afetados pelos cortes estão o programa de submarinos da Marinha, o desenvolvimento de blindados do Exército e a aquisição de caças pela Força Aérea Brasileira (FAB).

A queda nos recursos reflete um aperto orçamentário que se estende por todo o Ministério da Defesa — a previsão para o ano que vem, de R$ 73 bilhões, é a menor desde 2005, quando foram destinados R$ 69,9 bilhões (em valores corrigidos pela inflação do período). O corte nos projetos estratégicos é, percentualmente, maior do que a queda total do orçamento do ministério da Defesa para 2020, de 31,7%.

O sentimento, entre expoentes das Forças Armadas e militares que integram o governo, é de insatisfação com a profundidade dos cortes orçamentários para 2020 apresentados no fim de agosto. Generais ouvidos pelo GLOBO afirmam que havia expectativa de redução de gastos — mas a realidade imposta foi além do que se esperava.

Falta de reconhecimento

Há consenso nas Forças Armadas de que o Estado passa por situação de penúria e que todas as áreas devem contribuir com uma dose de sacrifício. A avaliação, no entanto, é que os valores destinados à Defesa deveriam ser encarados com algum grau de prioridade pelo Ministério da Economia. Eles citam os esforços feitos pelo contingente militar em momentos de emergência, como ocorreu este ano no rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho (MG) e com as queimadas na Amazônia, quando o trabalho imediato das forças foi necessário para conter estragos maiores e resgatar sobreviventes.

Havia uma expectativa, por parte dos militares, de que, após a aprovação da reforma da Previdência, haveria uma retomada dos investimentos nas Forças Armadas — plano que, hoje, está fora do radar da Economia. A equipe econômica, na avaliação de alguns militares, não enxerga os projetos estratégicos da Defesa como empreitadas importantes.

No Ministério da Economia, há a convicção de que o desbloqueio de recursos previsto para este mês e o próximo, da ordem de R$ 20 bilhões, pode ajudar a levantar os ânimos da cúpula militar. Mas, nos quartéis, as palavras da vez têm sido “decepção e desalento”.

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse que o ministério está tentando obter uma suplementação orçamentária, em negociação com a equipe econômica do governo. Ele não soube informar o valor desse reforço.

 

O Globo