A morte do guia turístico Victor Cerqueira Santos Santana no último sábado (10), durante operação policial na comunidade de Caraíva, em Porto Seguro, no sul da Bahia, gerou comoção e protestos nesta segunda-feira (12).
Nativos e moradores relatam que a criminalidade na região tem aumentado nos últimos anos, com a chegada de facções e abordagens violentas da polícia. Mas de que maneira o aumento nesses tipos de caso pode significar uma redução na chegada de novos turistas ao destino paradisíaco?
A comunidade de Caraíva é dividida entre a vila tradicional e as aldeias indígenas Pataxó, especialmente a aldeia Xandó, que assistiu uma expansão urbana desordenada nos últimos anos. Um morador da vila tradicional que vive no local há mais de 20 anos e não quis ser identificado alega que a criminalidade na região teve um boom em 2020.
“Quando chegou energia na aldeia Xandó, o lugar virou uma cidade, porque havia gente de todos os cantos, comprando terrenos em território federal, instalando comércios e construindo casas sem qualquer fiscalização. Lá se instalou o tráfico que veio de outras regiões, e começou a disputa para tomar Xandó e Caraíva, é uma disputa territorial”, disse.
Outra moradora que também não quis ter o nome revelado, argumentou que as causas para o aumento da criminalidade na região estão relacionadas ao turismo na localidade, que é visitada por turistas de diversas partes do Brasil e mundo.
“O turismo predatório começa a partir do momento que a elite se espalha em Caraíva. Enquanto isso, Xandó vira uma área periférica, daí temos uma série de problemas ligados com disputas territoriais, e um aumento da criminalidade da região. É uma urbanização forçada que traz diversos problemas como o crime”, explicou.
No sábado, após a operação que matou o traficante “Alongado” e o guia Victor Cerqueira, traficantes de uma facção decretaram um toque de recolher na região. “Há uma revolta silenciosa na vila contra os traficantes porque eles pediram para fechar. Porque a sobrevivência das pessoas está ligada ao turismo, mas os comerciantes, moradores tradicionais e canoeiros, têm medo de falar por causa de uma possível retaliação”, denunciou o homem.
Além da questão do tráfico, a moradora ouvida pela reportagem disse que as ações violentas da polícia, como a que matou Victor, são frequentes no Xandó. “É importante ressaltar que já aconteceu outras vezes. É impossível ignorar, todo mundo da região sabe, mas a comunidade não fala sobre o assunto, porque muita gente tem medo”
Ainda de acordo com o homem entrevistado, os moradores estão com a sensação de que a violência tomou conta da vila tradicional. “Tem gente querendo desistir de lá, há um movimento do pessoal de Trancoso de não ir mais para a Caraíva. Tem muitas casas tradicionais sendo desocupadas. Durante o ano, não está forte como antes. Essas notícias com certeza vão inibir a ida de turistas para lá”.
Policiamento reduzido
O homem também disse que a Polícia Militar montou um posto fixo com seis policiais em Caraíva no ano de 2022, mas segundo ele, ultimamente não tem havido um policiamento extensivo na região. “Raramente aparecem lá e quando vão são só dois”, conta.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para perguntar quais as estratégias das forças de segurança para mitigar o impacto da violênciano turismo na região de Caraíva, mas não obteve resposta.
A Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur) prometeu responder sobre uma estimativa dos prejuízos causados ao turismo baiano devido aos casos recentes de violência, mas não retornou até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.
Jornal Correio
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