Maior produtora de resinas termoplásticas das Américas, a companhia baiana Braskem admitiu ontem a possibilidade de integrar um consórcio de empresas para comprar, pelo menos, o bloco nordestino de refino de petróleo, proposto pelo programa de venda de ativos da Petrobras. Pelo modelo previsto, somente na região, a estatal estaria disposta a transferir para a iniciativa privada, num só lote, até 60% do conjunto de bens formado pela Refinaria Landulpho Alves (Rlam), em Mataripe, além da refinaria pernambucana Abreu e Lima, cinco terminais e 15 dutos.
“Com certeza, até por conta do nosso foco comercial, não lideraríamos um consórcio nesse sentido, mas se viermos a ser convidados, por outras empresas interessadas, para integrar algum consórcio, certamente, que levaríamos a questão para análise do nosso Conselho de Administração”, afirmou o presidente da Braskem, Fernando Musa, em entrevista concedida por teleconferência. A Petrobras também é acionista da Braskem, o que a princípio, já inviabilizaria uma participação mais agressiva da petroquímica baiana no processo na aquisição dos blocos. Por outro lado, a própria Petrobras também anunciou interesse em vender sua participação na companhia.
Independentemente de uma eventual participação da companhia num consórcio, como compradora da Rlam e demais ativos previstos, Musa não escondeu a expectativa de que os planos da Petrobras de privatização do refino possam gerar melhores oportunidades para o mercado e para a empresa: “A Braskem espera novos investimentos e oportunidades de diálogo com os eventuais novos acionistas que assumirem os blocos de refino tanto do Nordeste, quanto no Sul, onde a companhia atua com a Petroquímica Triunfo” – outro ativo comprado da Petrobras, em negócio investigado no âmbito da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, mas que a empresa, do grupo Odebrecht, alega total regularidade.
“Só nos resta, no momento, acompanhar o processo [no caso dos planos de venda de participação da Petrobras nos dois grandes blocos de refino se confirmarem), para ter mais clareza sobre os planos dos novos acionistas, com expectativa positiva de novos investimentos”, disse Musa. “São operações que podem afetar diretamente toda a logística do nosso negócio”, lembrou.
Mais flex
Pelo sim, pelo não, diante das instabilidades que ainda pairam sobre os planos da Petrobras, a Braskem está reforçando, na fábrica de Camaçari, os estudos técnicos para dobrar dos atuais 15% para 30% o percentual de uso do gás etano, oriundo do shale gás, o chamado gás de xisto, importado dos Estados Unidos. O produto substitui o uso da matéria-prima nafta, cujo único fornecedor é a Petrobras. A matéria-prima representa 75% da produção do eteno, produzido pela Braskem e que serve de base para toda a cadeia da indústria plástica.
Para driblar a dependência da Petrobras, na oferta do insumo e controle de preços, a companhia já havia investido R$ 380 milhões para adaptar a planta baiana, tornando-a “flex”, ou seja, com opção para uso de duas matérias-primas (a nafta ou o etano), a partir das quais se produz o eteno. “Estamos trabalhando dentro do novo patamar de 30% de flexibilização, avançando já na fase de estudos técnicos de engenharia para esta finalidade”, informou Musa.
Trimestre
Mesmo diante da “má fase” de seus principais acionistas (Odebrecht e Petrobras), a Braskem atua confiante na preservação da companhia, diante da alta viabilidade de seus negócios, o que, como admitiu Musa, sustentaria até a possibilidade de integrar um consórcio para compra dos ativos de refino da Petrobras, como a Rlam. Na teleconferência com jornalistas, Fernando Musa confirmou os números do balanço do primeiro trimestre deste ano, divulgados na edição de ontem de A TARDE: a empresa teve, em comparação ao primeiro trimestre do ano passado, uma queda de 42% no lucro líquido, ficando em R$ 1,054 bilhão – recuo que, segundo ele, não abala os planos de aumento em 25% dos investimentos previstos para este ano (R$ 2,9 bilhões), sendo que 40% devem ser destinados para operações nos Estados Unidos.
A queda significativa no lucro do trimestre foi minimizada pelo presidente da Braskem, como resultado de questões pontuais: impactos da interrupção do fornecimento de energia elétrica para as plantas do Nordeste do Brasil em março, inverno mais rigoroso que o esperado nos Estados Unidos, parada programada de manutenção de Triunfo (RS) e pela parada não-programada na planta de cloro-soda em Alagoas. A empresa confirmou ainda que as exportações também caíram, mas, por outro lado, as vendas internas aumentaram 5%, “o que revela um sinal de recuperação gradual da economia nacional”, concluiu Fernando Musa.
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