O secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas, xingou a chef Angeluci Figueiredo, dona do restaurante Preta, na Ilha dos Frades, por não ter sido atendido no último domingo, 1, no estabelecimento, fechado por causa do mau tempo. Em mensagem de Whatsapp, Vilas-Boas chamou a proprietária do restaurante de “vagabunda”. Em publicação no Twitter nesta segunda-feira, 2, o secretário pediu desculpas pelos “comentários inadequados”.
Em mensagem enviada a Angeluci, Vilas-Boas reclamou do restaurante fechado e reclamou dos R$ 350 pagos para atracar na ilha. “Esqueça me ver de novo aqui”, disse. Em seguida, escreveu: “Amigo o caralho! Vagabunda”.
Segundo a chef, a Capitania dos Portos havia recomendado a restrição da navegação na Baída de Todos os Santos por causa do mau tempo. o que levou ao fechamento do restaurante no domingo, já que haveria dificuldade para clientes e funcionários se deslocarem. Angeluci explicou ainda que, por limitações das operadoras de telefonia, o serviço de Wi-Fi é precário nas ilhas com a oscilação das condições de tempo.
“Pergunto-lhe: o que autoriza uma autoridade, no exercício de uma função pública das mais relevantes do estado – a de secretário de Saúde do Estado da Bahia, e durante uma pandemia, o que torna a sua função sinhá mais responsável – chamar uma mulher de VAGABUNDA? O senhor admite algum senso de possibilidade de razoabilidade no seu gesto, no uso dessas palavras?”, respondeu a dona do Preta a Vilas-Boas. “Os tempos mudaram, secretário: inexistem contextos que justifiquem essa relação de senhor e vassalo. Eu não sou vagabunda. Sou uma mulher digna, honrada, profissional, empresária, geradora de empregos e com uma árdua rotina de trabalho, física, inclusive, para realizar um sonho e um projeto de oferecer aos meus clientes um serviço de qualidade. Mas não de qualquer jeito: só quando as circunstâncias me permitem”, continuou.
No Twitter, Vilas-Boas pediu desculpas à chef e disse que agiu “tomado de emoção” após uma “enorme frustração momentânea”. “Por mais cuidadosos que sejamos, ao longo da vida cometemos erros que podem atingir as pessoas. Peço, portanto, desculpas à empresária e artista da gastronomia baiana, a Chef Angeluci Figueiredo, pelos comentários inadequados no último domingo (1), em circunstâncias injustificáveis, enviados por mensagem privada. Tendo reservado um almoço especial com os familiares e amigos do exterior com a devida antecedência de 48h, uma enorme frustração momentânea me levou, tomado de emoção, a dizer o que disse. Conto com o perdão de todos que se sentiram ofendidos, pois sempre pautei minha vida na verdade, honestidade e acolhimento”, publicou.
Líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia, o deputado Sandro Régis (DEM) cobrou um posicionamento do governador Rui Costa sobre as ofensas. “Esse tipo de declaração não condiz com o posto que ocupa o médico Fábio Vilas-Boas. As agressões à empresária são graves e exigem um posicionamento do governo do estado. Não podemos admitir, em hipótese alguma, que integrantes do governo baiano tenham esse tipo de comportamento e saiam impunes”, afirmou o depitado, por meio de nota.
O deputado também cobrou um pronunciamento da Comissão dos Direitos da Mulher da Assembleia. “A declaração do secretário, além de desrespeitosa, pode ser considerada misógina. É importante que haja um posicionamento das nossas deputadas, uma vez que foi feita uma agressão verbal contra uma mulher, e que foi acompanhada inclusive de acusações graves”, finalizou.
Outro parlamentar que comentou o caso foi o deputado federal Félix Mendonça Jr (PDT). O pedetista também pediu um posicionamento do governador. “Minha irrestrita solidariedade à chef, que foi vítima de uma agressão imperdoável por parte de uma autoridade do governo do estado que deveria dar o exemplo de respeito à vida. Isso não pode ficar impune. O governador precisa se manifestar”, escreveu Félix no Twitter.
Líder da oposição na Câmara de Salvador, a vereadora Marta Rodrigues (PT) condenou a agressão verbal. “Minha solidariedade a Angeluci Figueiredo por ter sido vítima dessa agressão, consequência do machismo que nós mulheres cotidianamente sofremos. Precisamos combater o machismo sem pestanejar, independentemente do lado que ele parta. Mais do que se desculpar, é importante que ele reflita sobre seu ato e assuma que teve uma atitude machista, pois este reconhecimento é fundamental partindo de uma pessoa pública, pois reverbera e colabora para combatermos o machismo na sociedade”, afirmou.
Também petista, a vereadora Maria Marighella disse que “a violência contra a mulher não acontece apenas em atos extremos, mas é uma prática que se constrói no cotidiano – com palavras e gestos – e não pode ser naturalizada”. “Nesse agosto lilás, mês de combate à violência contra mulher, reiteramos que não toleramos este tipo de postura vindo de qual campo vier. Não podemos aceitar as ofensas misóginas proferidas pelo secretário à empresária Angeluci Figueiredo. Toda a nossa solidariedade!”, publicou no Twitter.
A Tarde
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