Se aprovado pelas agências reguladoras, um medicamento pode se tornar a primeira alternativa para o tratamento do tabagismo em quase duas décadas. A expectativa é alta depois que a citisiniclina, também conhecida como cistina, demonstrou ser eficaz, segura e bem tolerada entre aqueles que buscam deixar o cigarro, levando um terço dos voluntários nos estudos a abandonarem o hábito. Os resultados são da terceira e última etapa dos testes clínicos, publicados na revista científica JAMA.
A citisiniclina é um fármaco à base de plantas que se liga aos receptores de nicotina no cérebro, de modo a aliviar o desejo pela substância e, consequentemente, de fumar. Além disso, reduz a gravidade dos sintomas associados à abstinência. É um mecanismo semelhante à vareniclina, aprovada nos EUA e no Brasil.
Os estudos clínicos foram conduzidos pela farmacêutica responsável pelo medicamento, a Achieve Life Sciences, e recrutaram 810 participantes que fumavam diariamente e desejavam deixar o cigarro, em 17 centros de pesquisa nos Estados Unidos.
Os voluntários foram divididos em três grupos com cerca de 270 pessoas cada. O primeiro recebeu 3 mg do medicamento, três vezes ao dia, durante 12 semanas. Para o segundo, foi administrada uma dose igual, porém durante 6 semanas. Nas demais, o remédio foi substituído por um placebo. Já o terceiro grupo recebeu apenas placebo no decorrer de todas as 12 semanas.
O objetivo era comparar não apenas o uso do remédio, mas também a diferença entre um ciclo de 12 e de 6 semanas. Os resultados mostraram que entre a 9º e a 12º, 32,6% (um terço) dos participantes que receberam o medicamento durante todo o período ainda estavam em abstinência. No grupo placebo, esse percentual foi de apenas 7%.
Para os participantes que receberam a citisiniclina por 6 semanas, 25,3% estavam em abstinência entre a 3º e a 6º, contra 4,4% no grupo placebo naquele período. Os voluntários também relataram uma queda rápida e consistente do desejo pelo cigarro durante o primeiro semestre do tratamento.
No longo prazo, também foram observados efeitos benéficos. Para o grupo de 12 semanas, entre a 9º e a 24º, ou seja, três meses após o fim do tratamento, 21,1% continuavam em abstinência, enquanto somente 4,8% permaneciam no grupo placebo.
O remédio também foi considerado seguro e bem tolerado, causando apenas poucos efeitos colaterais como náusea e insônia em menos de 10% de cada grupo – um ponto positivo, já que um dos problemas com as terapias atuais são os fortes efeitos.
“Acreditamos que o corpo de evidências até o momento mostra que a citisiniclina efetivamente aumenta as taxas de cessação sem causar efeitos colaterais incômodos, que muitas vezes são uma das principais razões pelas quais os pacientes se recusam a tomar ou continuar com os medicamentos prescritos para cessação”, afirma Cindy Jacobs, presidente e diretora médica da Achieve Life Sciences.
A farmacêutica, especializada em tratamentos para o tabagismo, pretende submeter os dados do medicamento para aprovação de uso pela FDA na primeira metade de 2024. Não há ainda estimativa para a solicitação de aval em outros países.
“Este agente tem o potencial de ajudar um número incontável de pessoas a parar de fumar e, no processo, reduzir o enorme número de mortes prematuras e incapacidades devido ao tabagismo nos EUA e no mundo”, defende Rigotti.
O medicamento, no entanto, já é utilizado amplamente em diversos países da Europa, ainda que esse seja o primeiro grande estudo clínico que de fato comprova a sua eficácia. Por se tratar de um fármaco feito à base de plantas, um fitoterápico, o critério para liberação no continente europeu não é tão rígido como para outros remédios.
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