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Polarização será a marca na disputa eleitoral em São Francisco do Conde

Quando forem às urnas em 4 de outubro de 2020, os eleitores de São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador, devem se deparar com apenas duas opções de voto. Por lá, o cenário político se encaminha para repetir, localmente, a polarização vista nacionalmente.

De um lado, um candidato indicado pelo atual prefeito Evandro Almeida (PP), impedido de concorrer porque está no segundo mandato. Do outro, uma família que tenta voltar ao poder, na figura de Ralison Valentim (DEM), irmã da ex-prefeita Rilza Valentim, morta em 2014, quando ainda estava no cargo.

Dois nomes estão no radar de escolha de Almeida para disputar a prefeitura. Um é o ex-prefeito e atual secretário municipal de Infraestrutura, Antônio Calmon. Outro é o vice-prefeito Nem do Caipe (PT). Segundo fonte próxima ao prefeito que tem acompanhando o processo decisório, o pepista quer anunciar seu candidato ainda este mês.

O critério de escolha adotado por ele, e já acordado com os dois, é a performance nas pesquisas. Até o fim de dezembro, quem aparecer mais bem posicionado nos levantamentos sobre intenções de voto será o ungido por Almeida. Neste sentido, as pesquisas internas dão vantagem a Calmon.

Caso o prefeito realmente opte pelo secretário, ele se filiaria ao PP para concorrer ao cargo novamente. As conversas foram confirmadas pelo deputado federal Cacá Leão (PP), filho do presidente estadual do partido, o vice-governador João Leão, que tem acompanhando a questão de perto. Segundo ele, a despeito da vontade do petista Nem do Caipe de disputar a sucessão, a sigla terá candidato próprio.

“Primeiro a gente arruma os nossos destinos. Depois, a gente conversa com os partidos”, afirmou o parlamentar. Vale lembrar que o PP é da base do governador Rui Costa. Estadualmente, a orientação entre as siglas é de privilegiar, nos municípios, as alianças com partidos do grupo, nos casos em que isso for possível.

Desvantagem

Em desvantagem nas pesquisas, Nem tenta se viabilizar para conseguir o aval do atual prefeito. Apoiador da candidatura do vice-prefeito, o vereador Professor Cravinho (PP), que retirou sua pré-candidatura em prol do petista, disse que o grupo tem tentado convencer Almeida a deixar sua definição para depois de dezembro. “Nem e seu grupo têm pedido um tempo. Decidir agora seria precipitado”, defendeu.

Entre as fontes ouvidas pela reportagem, ninguém identificou tendência de rompimento entre vice e prefeito, caso Calmon seja escolhido. A aposta é que Nem pode compor chapa novamente como vice. Em contrapartida, seu grupo teria uma ampliação nos espaços na prefeitura. A costura seria uma forma de compensação.

Inicialmente, outras candidaturas se ensaiaram no grupo do prefeito, mas acabaram ficando pelo caminho. É o caso, por exemplo, da secretária de Comunicação Vanessa Dantas.

Esposa do deputado estadual Rosemberg Pinto (PT), ela era vista com simpatia no seu entorno político. No entanto, começou a ser desidratada dentro do próprio grupo. Teria despertado desconforto pelo fato de ser um nome novo e pouco identificado com a cidade, em um cenário com figuras já tradicionais da política local.

Legado

Ralison vem com a promessa de retomar o legado da irmã. Em 2016, disputou, mas acabou perdendo para Almeida, que, por acaso, foi vice de sua irmã e assumiu a prefeitura por causa da morte dela. Hoje, a pré-candidata está em um campo político diametralmente oposto ao de Rilza.

Enquanto a ex-prefeita era do PT, ela está no DEM, com apoio de ACM Neto. Ela contou que sua virada de posicionamento ocorreu após ver que partidos de esquerda estavam apoiando o governo de Almeida, que, segundo ela, está destruindo a herança deixada por sua irmã. “Como eu poderia estar em um partido de esquerda se os partidos de esquerda no município apoiavam essa tragédia de gestão?”, questionou. Sua inspiração é a gestão de Neto em Salvador. “Tenho admirado bastante o trabalho dele. Ele transformou a cidade”, avaliou.

Uma dificuldade que Ralison deve enfrentar nas suas pretensões de ser candidata é a formação de alianças para a próxima eleição. Atualmente, Evandro não tem oposição na Câmara de Vereadores: todos são governistas. Não há indícios, pelo menos até o momento, de alguma debandada. Questionada sobre o que faria para atrair esses partidos e como lidaria com essa desvantagem, a demista não soube apresentar soluções mais palpáveis.

“Acredito na força do povo. Agora, não tenho problema de aceitar ninguém que consiga enxergar que essa gestão é ruim. Estou aberta para quem quiser, da situação, vir se juntar a Ralison para apoiar a oposição e salvar o município”, disse. Além dos nomes cogitados, o PCdoB lançou a pré-candidatura do professor Chico Santana. Caso ela se mantenha, as eleições manterão uma tendência vista desde 2004, pelo menos: a do pequeno número de candidaturas.

Contas de ex-prefeitos são consideradas regulares

As contas dos ex-prefeitos de São Francisco do Conde Osmar Ramos e Antônio Carlos Vasconcelos Calmon foram consideradas regulares pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A decisão, que concedeu aos ex-gestores revisão, considerou o recurso da defesa de Calmon e foi tomada em sessão  no mês passado.

As irregularidades que condenaram os dois prefeitos teriam ocorrido em decorrência da não comprovação da aplicação dos recursos federais repassados ao município pela Caixa Econômica Federal (CEF) durante a gestão de Osmar.

Segundo o advogado de Calmon, Antônio Marra, a condenação aconteceu em 2004 pelo TCU entender que Antônio Calmon, que sucedeu Osmar, deveria responsabilizá-lo nas contas prestadas pelas supostas irregularidades.

No recurso, foi demonstrado que “não havia nenhuma irregularidade e o Tribunal reconheceu, tirando toda a responsabilidade dele e até do Osmar Ramos. Está afastada toda a condenação”, disse Marra.

Contas aprovadas

Na última quarta-feira, o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) aprovou com ressalvas as contas da Prefeitura de São Francisco do Conde, na gestão de Evandro Santos Almeida, e de mais 16 outros prefeitos baianos. Todas as contas são relativas ao exercício de 2018.

Em São Francisco do Conde, o acompanhamento técnico indicou a contratação de assessorias e consultorias por inexigibilidade de licitação e baixa cobrança da dívida ativa tributária, entre outras. O município apresentou uma receita arrecadada de R$ 551,528 milhões e uma despesa de R$ 521,.123 milhões, demonstrando um superavit orçamentário de R$ 30,4 milhões. A despesa total com pessoal alcançou o montante de R$ 275,14 milhões, que correspondeu a 55,28% da receita corrente líquida. O gestor está dentro do prazo para recondução da despesa. Todos os índices constitucionais foram respeitados.

 

A Tarde