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Mulher assassinada pelo ex-companheiro escreveu carta pedindo a liberdade dele por causa dos filhos

Na madrugada da última terça-feira (23), o assassinato brutal de Rafaela Ramos dos Santos, de 31 anos, chocou a população. Ela foi morta a facadas pelo ex-companheiro no bairro do Campo do Gado Novo, em Feira de Santana, na residência onde morava com os três filhos. Um deles, de 13 anos, tentou defendê-la, mas foi atingido e está com uma lesão grave na mão.

Em entrevista ao portal Acorda Cidade, a delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), Clécia Vasconcelos, informou que a vítima já tinha uma medida protetiva contra o autor, por ter sido estuprada no mês de março. No dia 23 de março, o ex-companheiro foi preso, autuado em flagrante delito por estupro. Posteriormente, ele foi liberado para responder ao processo em liberdade durante a audiência de custódia e o inquérito foi remetido à Justiça.

Depois de um mês de ser posto em liberdade, o homem matou Rafaela.

Nesta quinta-feira (25), o repórter Aldo Matos, do Programa nas Ruas e na Polícia, da Rádio Sociedade News, recebeu a informação exclusiva de que Rafaela fez uma carta de próprio punho pedindo para que a Justiça liberasse o ex-marido durante a audiência de custódia. O documento foi anexado pelo advogado do homem ao processo e ele foi liberado.

A delegada Clécia Vasconcelos confirmou ao portal Acorda Cidade a existência da carta e destacou que, no texto, Rafaela se referia ao cuidado e a preocupação com os filhos e, por este motivo, colocou a sua vida em risco.

Clécia Vasconcelos pontuou que o fato da vítima ter escrito uma carta pedindo que o ex-companheiro fosse solto, após sofrer tantas situações de violência, é um caso que envolve muitas questões.

“Rafaela tinha o inquérito policial, medida protetiva, e tinha um inquérito, um auto de prisão em flagrante delito pelo crime de estupro. Diante das circunstâncias todas, será que ela não estava sendo pressionada para fazer essa carta? Será que ela estava bem psicologicamente? Porque a dependência afetiva é tão danosa quanto uma violência mais incisiva, termina deixando de proteger a si própria. Então, são vários contextos, o que faz uma pessoa que vem sofrendo seguidamente violências a pedir ao magistrado que solte o marido dela? O objetivo da carta era esse. A gente não pode culpabilizar essa mulher, a natureza humana, a natureza de uma mulher com 3 filhos que precisava trabalhar”, comentou ao Acorda Cidade.

A delegada observou ainda sobre a covardia e a brutalidade do crime, como também o trabalho incisivo da Polícia Civil, que logo fez a prisão em flagrante. Ela disse que, quando ocorre um crime de feminicídio, além dos familiares das vítimas, toda a rede de proteção sofre.

Deam - Feira de Santana
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Ela salientou ainda que, na escrita da carta, Rafaela falou muito pouco de si, mas falou sobre seus filhos.

“A gente se reúne para avaliar onde foi o erro. Essas crianças que viram a mãe morrer nas mãos do pai, não vão ser normais nunca. A gente fala muito de feminicídio sobre quem fica, como a prole da vítima. Não vamos julgar a mulher, ao magistrado, mas lembrar que a medida protetiva é um instrumento de grande valia e independente da Polícia Civil, Ronda Maria da Penha, Polícia Militar, a mulher tem que ser protagonista de sua história. A mulher que tem filhos, que precisa trabalhar, pensa mais nos filhos do que nela e essa carta, pouco ela fala dela, fala dos filhos. Que estavam precisando do pai e que muitas vezes tinha que deixar as crianças em casa para trabalhar. Ela abdicou da própria segurança pelos filhos e é muito triste, e quem sabe do que eu estou dizendo é a família dela. Ela tinha um histórico de violência desse indivíduo”, lamentou a delegada.

Violência contra a mulher

O caso de Rafaela chama a atenção para os casos de violência contra a mulher, no Brasil, Bahia e em Feira de Santana. No ano de 2023, 27 mulheres foram assassinadas na cidade. Em 2024, até esta data, 12 mulheres perderam a vida, sendo duas vítimas de feminicídio.

A edição 2023 do Relatório Atlas da Violência no Brasil mostra que, enquanto a taxa de homicídios, da população em geral, apresenta queda, a de homicídios femininos cresceu 0,3%, de 2020 para 2021.
Somente em 2021, 3.858 mulheres foram assassinadas no país em 2021. Especificamente durante a pandemia, entre 2020 e 2021, 7.691 vidas femininas foram perdidas no país. 2.601 mulheres negras foram vítimas de homicídio no Brasil, em 2021, o que representa 67,4% do total de mulheres assassinadas e 4,3 para cada 100 mil.

A metade dos feminicídios registrados entre 2012 e 2020 envolveu armas de fogo. Em dez anos, de 2011 a 2021, mais de 49 mil mulheres foram assassinadas no Brasil.

 

 

 

Acorda Cidade