O corretor de valores Lucio Funaro, preso pela Operação Lava Jato, entregou à Polícia Federal registros de chamadas telefônicas que o ex-ministro Geddel Vieira Lima fez para sua mulher, Raquel, por meio do aplicativo Whatsapp.
Funaro quis comprovar o que disse à PF no inquérito que investiga o presidente Michel Temer e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures: que Geddel ligou para sua mulher várias vezes “sondando” sobre a possibilidade de ele, Funaro, fechar acordo de delação. O inquérito foi aberto a partir da delação da JBS.
Os registros das ligações, “prints” (imagens) das telas do celular da mulher de Funaro, mostram 12 ligações de “Carainho” –apelidado dado a Geddel na agenda telefônica de Raquel– em oito dias diferentes, após a imprensa divulgar a delação da JBS.
O número atribuído a “Carainho” na agenda, com código de área de Salvador, coincide com o número de celular de Geddel, segundo a Folha apurou.
Em seu depoimento, Funaro, que estaria negociando um acordo de delação premiada, disse que estranhou os telefonemas do ex-ministro para sua mulher para sondá-la sobre o “ânimo” dele para fazer delação.
A primeira ligação de Geddel, segundo os registros, foi às 22h59 de 17 de maio –horas após a divulgação da delação da JBS pelo jornal “O Globo”.
A segunda ligação, foi à 1h07 da madrugada de 18 de maio. Outras ligações, conforme os registros, foram feitas entre 20 de maio e 1° de junho.
Em depoimento à Polícia Federal, o diretor da J&F Investimentos e ex-diretor de relações institucionais da JBS, o advogado Francisco de Assis e Silva, que também fez acordo de delação premiada, disse que “trocou inúmeras mensagens com Geddel acerca de Lucio Funaro”.
Havia uma dúvida frequente, segundo Silva, nestes termos: “Oi, tudo bem? Como está o passarinho”. As mensagens eram trocadas, de acordo com Silva, por um aplicativo programado para destruir as mensagens após a leitura, e por isso o advogado disse que não tinha cópias delas para apresentar à PF.
Silva contou que “todos esses contatos” com Geddel eram “imediatamente comunicados” ao empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS.
“Geddel Vieira Lima era uma pessoa que fazia a interface entre Joesley e o Palácio [do Planalto]. Segundo Joesley, falar com Geddel era o mesmo que falar com Michel Temer”, disse o advogado. Ele afirmou ter ouvido de Geddel que o ex-ministro “obtinha informação de Lucio Funaro através de conversas que mantinha com a esposa de Lucio”.
O advogado afirmou ainda que Geddel lhe informou que Michel Temer havia escalado o atual ministro Eliseu Padilha “para cuidar do processo de Lucio Funaro junto ao STF [Supremo Tribunal Federal]”. O termo de depoimento de Silva não explica como seria esse “cuidado”.
Geddel é apontado por Joesley Batista, dono da JBS, como o antigo interlocutor da empresa junto ao governo Temer. Depois dele, que deixou o governo no final do ano passado, o interlocutor passou a ser Loures –o ex-deputado flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil da JBS.
Também no depoimento no âmbito do inquérito sobre Temer e Loures, Funaro afirmou à PF que pagou comissões a Geddel e ao ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).
OUTRO LADO
Procurada pela Folha nesta terça-feira (21), a defesa do ex-ministro Geddel Vieira Lima afirmou por nota que seu cliente se distanciou de pessoas do governo e de investigados e “rechaça a prática de qualquer ilicitude por parte do seu constituinte”.
“É importante ser ressaltado que, desde que se viu injustamente enredado em procedimentos de apuração instaurados em seu desfavor, o Senhor Geddel Vieira Lima colocou-se à disposição de todas as autoridades constituídas, comparecendo espontaneamente para prestar declarações, inclusive com deslocamentos para capital federal, disponibilizando os seus sigilos bancário e fiscal, não criando qualquer óbice para o prosseguimento das investigações”.
A defesa disse ainda que Geddel está reservado “em sua intimidade”.
“Vale salientar que, conforme asseverado até mesmo por delatores premiados, desde que se afastou do cargo de Ministro de Estado, o Senhor Geddel Vieira Lima passou a reservar-se na sua intimidade, distanciando-se de qualquer contato com membros do Governo Federal e, principalmente, com pessoas investigadas”.
More Stories
Manu Bahtidão se apresenta no aniversário de Madre de Deus no dia 13 de junho
1º Desafio da Nutri chega ao fim com resultados inspiradores
Madre de Deus promove I Painel de Discussão: Iniciativas para Conservação Ambiental