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Israel aprova plano para conquistar Gaza e forçar saída de civis palestinos

O gabinete de segurança de Israel aprovou nesta segunda-feira (5) um plano para expandir a guerra na Faixa de Gaza, incluindo a conquista completa do território e a remoção forçada da população palestina, uma hipótese que, se confirmada, configuraria limpeza étnica.

 

De acordo com o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, a guerra em Gaza “será intensificada”, e os soldados israelenses não mais lançarão ataques contra o território e depois recuarão. “A intenção é o exato oposto disso”, afirmou em vídeo publicado em suas redes sociais.

Um dia antes, o Exército havia anunciado a mobilização de dezenas de milhares de reservistas para ampliar a ofensiva contra o grupo terrorista Hamas. A estratégia incluirá, entre outros pontos, a ocupação de Gaza, a manutenção do controle territorial e o deslocamento da população civil para o sul, sob justificativa de proteção.

 

O plano foi aprovado por unanimidade pelo gabinete, que inclui Netanyahu e ministros-chave de seu governo, o mais à direita da história do país. Segundo a imprensa local, autoridades familiarizadas com o assunto disseram que o novo plano será implementado de forma gradual ao longo de vários meses, começando pela atuação concentrada em uma área já devastada de Gaza. Hoje, algumas estimativas apontam que mais de 70% do território está sob controle israelense.

A depender de como for implementada, a ofensiva expande os objetivos declarados de Israel na guerra, prevendo não apenas a destruição do Hamas -uma resolução considerada improvável por analistas militares- mas também a tomada permanente do território.

 

Gaza esteve sob controle direto de Israel de 1967 a 2005, quando Tel Aviv se retirou do território por decisão unilateral e desmontou os assentamentos judaicos que existiam ali. Um retorno da ocupação direta provavelmente enfrentaria resistência da comunidade internacional -ainda que organizações como a ONU nunca tenham reconhecido um fim da ocupação, uma vez que Israel controla todo o acesso à Gaza por terra, mar e ar.

 

“Isso vai levar, inevitavelmente, a incontáveis novas mortes de civis e à destruição ainda maior de Gaza”, disse um porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres. “A Faixa de Gaza é, e deve permanecer, uma parte integral de um futuro Estado palestino.”

Um porta-voz das Forças Armadas israelenses disse nesta segunda que a nova operação se chamará Carruagens de Gideon, em referência ao personagem bíblico Gideão. Segundo a narrativa bíblica, Gideão libertou os israelitas dos midianitas, uma etnia árabe antiga, liderando uma emboscada e matando seus líderes.

 

Segundo o ministro do gabinete de segurança Zeev Elkin, o cronograma da operação pode abrir “uma janela” de negociações para um cessar-fogo e para um acordo de libertação de reféns antes da visita à região do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prevista para acontecer entre os dias 13 e 16 de maio. Nesta segunda, Trump disse que vai ajudar a entregar comida para os palestinos na Faixa de Gaza, mas não fez comentários sobre o anúncio de Israel de ocupar o território.

Netanyahu também continua apoiando a ideia de Trump de promover a “emigração voluntária” dos habitantes de Gaza para países vizinhos, como Jordânia e Egito. As duas nações árabes já expressaram oposição à proposta.

 

Segundo autoridades militares, Netanyahu disse que é hora de lançar as “medidas finais”, acrescentando que a nova campanha ajudaria a trazer de volta os reféns que ainda estão presos em Gaza.

 

O premiê israelense também rejeitou a possibilidade de um cessar-fogo imediato, mesmo diante da crescente pressão internacional, e afirmou que só aceitará uma trégua após alcançar seus objetivos militares. Ele disse que a permanência das tropas em Gaza é essencial para garantir a segurança de Israel.

 

Em comunicado, o grupo que reúne as famílias dos sequestrados disse que o plano anunciado por Israel “sacrifica os reféns”. “Esta manhã, o governo reconheceu que escolhe o território em vez dos reféns, ao contrário do desejado por mais de 70% da população”, diz o texto. O Hamas diz que só libertará reféns como parte de um acordo que encerre a guerra e a presença militar israelense em Gaza.

 

Israel ainda não apresentou um plano claro para o futuro de Gaza após o conflito, mesmo sob crescente pressão internacional para encerrar a guerra, que já matou mais de 52 mil palestinos e deslocou a maior parte dos 2,3 milhões de habitantes do território.

 

Nesta segunda, Jan Egeland, secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC), disse no X que Israel estava exigindo que a ONU e organizações não governamentais encerrem seu sistema de distribuição de ajuda em Gaza.

 

“Eles querem manipular e militarizar toda a ajuda aos civis, forçando-nos a entregar suprimentos por meio de centros projetados pelo Exército israelense, uma vez que o governo concorde em reabrir as passagens. O NRC defenderá nossos princípios humanitários e, com todos os nossos pares, se recusará a participar desse novo esquema.

 

O bloqueio completo de Gaza, retomado após o colapso do cessar-fogo em março, já dura mais de 60 dias. A população palestina aproxima-se de “níveis catastróficos” de fome e passa por uma crise humanitária gravíssima, de acordo com repetidos avisos de órgãos da ONU.

 

A Anistia Internacional disse na sexta-feira (2) que a duração de dois meses do bloqueio é mais uma prova “da intenção genocida de Israel”, e pediu que países europeus e os EUA pressionem Tel Aviv para que a ajuda humanitária volte a entrar no território palestino.

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