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Exibicionismo nas redes pode gerar depressão e transtornos alimentare

 

Basta acessar seu feed no Instagram e deslizar o dedo pela tela do dispositivo. É quase certo esbarrar com o post de um usuário que neste momento está curtindo as suas maravilhosas férias, em um cenário paradisíaco. Se descer um pouquinho mais, pode se deparar com um outro, de corpo sarado, sensualizando de frente para o espelho da academia. Ou então com alguém posando ao lado da celebridade com quem cruzou no saguão do aeroporto. Indo mais além: atire a primeira pedra — ou dê o primeiro block — quem nunca compartilhou nada que exaltasse seu estilo de vida, sua aparência física ou mesmo sua opinião brilhante sobre qualquer assunto. O fato é que, a julgar pelas postagens nas redes sociais, as pessoas aparentam ser muito mais felizes e bem resolvidas no ambiente virtual do que mundo real. Mas, pode acreditar: é tudo fake.

Quando criou o Facebook, Mark Zuckerberg dizia que as pessoas que interagem numa rede social nunca mais se sentiriam sozinhas. Havia uma promessa de felicidade comunitária e não haveria mais desertos. O Facebook seria um lugar de felicidade e isso foi gerando uma obrigatoriedade de vivermos um tempo de narcisismo exacerbado e de falsidade, porque ninguém é feliz o tempo todo — explica a psicanalista Angela Villela.

De acordo com a especialista, o narcisismo nem é um problema em si, já que ele é constitutivo do ser humano e está ligado à construção da autoestima de cada um. Só que, ainda segundo ela, o narcisismo bem construído precisa estar focado nas nossas demandas internas — e não nas exigências sociais que não podemos cumprir.

Mas qual o motivo de tanta ostentação on-line? E de onde vem essa satisfação de se exibir no ambiente virtual? Para o psiquiatra e psicoterapeuta Alexandre Saadeh, as pessoas sempre tiveram essa inclinação de reafirmar seus status sociais, numa tentativa de delimitar o seu espaço.

É do ser humano querer mostrar o quanto é bom. Antes as pessoas convidavam os amigos próximos para ver suas fotos de viagem em casa. Hoje as redes sociais potencializam isso, porque é tudo feito em tempo real para centenas, ou milhares, de seguidores. A impressão que passa é que todos vivem numa família de comercial de margarina e só frequentam lugares incríveis — defende Alexandre.

Além de frustração, a ostentação nas redes sociais também pode gerar sentimentos hostis em quem é bombardeado o tempo todo pela felicidade alheia.

Vivemos numa sociedade competitiva e esse exibicionismo extremo pode ter nuances cruéis, quando estimula a disputa ou até mesmo a inveja em quem eventualmente se sente diminuído, por estar fora do padrão estabelecido como ideal — diz Alexandre.

Os corpos vivem sob um controle permanente para estarem dentro de um padrão estético exigido, o que pode causar transtornos alimentares.

Além disso, a constante necessidade de aprovação pelo outro nas redes pode provocar síndromes como a FoMo (Fear of Missing Out), citada pela primeira vez em 2000, e que consiste no medo de que outras pessoas tenham boas experiências que você não tem. De acordo com estudos psiquiátricos, as ostentações feitas nas redes sociais podem incentivar os sintomas da síndrome, como o mau humor, picos de ansiedade e estress, tédio, isolamento e depressão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Globo