Por: Álvi Días
Salvador, Bahia, Brasil.
20 de abril de 2024. 19:35
Mas como estão
os dados de preconceito contra idosos em um período pós-pandemia e como
essa forma de preconceito pode afetar a população mais jovem da sociedade?
Como o etarismo pode afetar uma pessoa jovem é uma pergunta muito comum
e também relevante, a resposta dela está no próprio significado da palavra, o
preconceito de idade, ou seja, o etarismo não tem limite de idade, pode ser
preconceito contra uma criança por ser jovem ou uma pessoa idosa por causa
de sua idade avançada, por esse e outros motivos o idadismo, como também é
conhecido, é o preconceito mais frequente não só no Brasil como no mundo.
No artigo 96 do Estatuto do Idoso impedir o acesso de uma pessoa idosa a
serviços bancários, serviços públicos e a contratação é crime e discriminação
da pessoa idosa por causa de sua idade, já no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), assim como para a população idosa brasileira, os direitos
dos menores de idade como cidadão estão garantidos, então qual o motivo de
um dos direitos humanos mais básicos, a dignidade, ser tantas vezes
desrespeitado? Um dos motivos é a diferença de gerações, um acontecimento
que se tornou muito comum após a Segunda Guerra Mundial, com o
crescimento populacional nas décadas seguintes o convívio entre pessoas de
diferentes idades se tornou mais comum, mas suas diferenças foram
intensificadas por causa do rápido desenvolvimento da tecnologia, as
mudanças frequentes do pensamento social no mundo pós-guerra e também o
aumento da idade máxima da população.
As mudanças que aconteceram para o idadismo se desenvolver não são
necessariamente ruins, mas o modo como nos adaptamos como sociedade a
elas é o verdadeiro responsável pelo preconceito de idade, ao invés de utilizar
as diferenças entre gerações para aprender e conviver, a sociedade se
desenvolveu alimentando uma divisão, um exemplo seria a discriminação que
ocorreu contra grupos pacifistas durante a Guerra Fria.
As mudanças que aconteceram para o idadismo se desenvolver não são
necessariamente ruins, mas o modo como nos adaptamos como sociedade a
elas é o verdadeiro responsável pelo preconceito de idade, ao invés de utilizar
as diferenças entre gerações para aprender e conviver, a sociedade se
desenvolveu alimentando uma divisão, um exemplo seria a discriminação que
ocorreu contra grupos pacifistas durante a Guerra Fria.
”Quando a pessoa atinge uma certa idade, a sociedade, como um todo,
começa a enxergá-la como frágil, que não serve mais. É preciso mudar a
mentalidade”
O etarismo pode afetar pessoas em qualquer idade, mas seu efeito é muito
prejudicial em pessoas em estado frágil ou de dependência, de acordo com o
professor Egídio Dórea, coordenador do Programa USP 60+ da Pró-Reitoria de
Cultura e Extensão Universitária da USP e da Comissão de Direitos Humanos
da Universidade, as consequências do preconceito de idade são prejudiciais
para a saúde mental, além da depressão que afeta grande parte da população
idosa, a solidão e o declínio cognitivo podem se desenvolver com o
preconceito.
No entanto por mais que as consequências do etarismo sejam amplamente
pesquisadas, os estudos e pesquisas sobre os seus efeitos no psicológico das
gerações mais jovens é muito menor, além de que, quando discutido, seu foco
é nos problemas enfrentados pelas pessoas idosas, deixando as gerações
mais novas em segundo plano ou ignoradas.
Apesar de pouco discutido focando em pessoas jovens, o etarismo continua a
ser de importante discussão, tanto para jovens quanto idosos, sem negligenciar
as diferentes faixas etárias envolvidas.
É importante lembrar que o preconceito contra idosos também afeta a
população jovem, a discriminação contra pessoas mais velhas pode afetar
familiares de crianças e adolescentes, sejam pais, mães, tios, avós e outros,
assim como pode prejudicar a saúde mental e física da pessoa, além das
doenças mencionadas anteriormente, idosos que sofrem com etarismo são
mais suscetíveis a doenças cardiovasculares, além de outras doenças como
demência e artrite, mas essas consequências não são exclusivas de idosos
com 60 anos ou mais, menosprezar alguém mais velho pode ajudar a
desenvolver de forma precoce as doenças citadas, assim como ocorre com
qualquer contra indicação médica.
Felizmente o etarismo só causa um efeito psicológico e físico na vítima caso
ela não possua apoio familiar ou o preconceito venha de familiares, famílias
que apoiam seus membros mais velhos garantem uma melhora na autoestima
da pessoa e em sua confiança, contribuindo contra decaimento mental e físico.
De acordo com Vania Herédia, presidente do departamento de gerontologia da
SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia):
“O etarismo se manifesta de várias formas. Essas atitudes e ações dificultam a
aceitação e acentuam a negação da velhice. A discriminação por idade é mais
forte em sistemas onde a sociedade aceita a desigualdade social.”
Uma das diversas formas do etarismo se manifestar é através dos estereótipos,
um exemplo é a frase “Isso é roupa de velha” ou “Isso é roupa de adolescente”,
as frases discriminatórias são muitas e prejudiciais, e para pessoas jovens uma
das formas mais comuns de etarismo é subestimar a pessoa, normalmente seu conhecimento.
Essa discriminação é mais comum com crianças e adolescentes,
podendo também acontecer com jovens adultos e pode promover a falta de
autoestima e de confiança, além de outros problemas psicológicos.
Em questionário que realizei sobre o etarismo foi perguntada se a pessoa ou
alguém que conhecia já sofreu preconceito por causa da idade, mais da metade
das pessoas que responderam ao questionário afirmaram que sim, totalizando
87,5% que disseram que sim e 12,5% responderam não.
Durante entrevista sobre o mesmo tema a entrevistada relata diversos casos no
qual presenciou etarismo, em um dos casos contou sobre como presenciou
pessoas que, enquanto passavam ao lado de idosos sentados em um banco,
conversavam entre si sobre como eles não deveriam estar naquele local,
continuando a falar mal dos idosos que descansavam.
Em outro caso envolvendo crianças a entrevistada relatou como presenciou e
tentou conscientizar pais de crianças que verbalmente estavam abusando das
mesmas, utilizando as seguintes expressões “essa criança é burra” e “essa
criança não vai ser nada na vida”, os relatos da entrevistada mostram como o
idadismo está enraizado como uma prática rotineira no país, em pergunta
realizada no questionário sobre os casos de etarismos e se sua ocorrência é
considerada rotineira, a maioria das respostas afirmam que sim com 87,5%,
enquanto apenas 12,5% são respostas que afirmam que o etarismo não
acontece de forma rotineira no Brasil.
A entrevistada também relatou como dentro do ambiente de trabalho ela
presenciou diversas vezes funcionários novos sendo preconceituosos contra os
funcionários mais velhos e como o etarismo pode ser prejudicial para saúde
física e mental das vítimas, ressaltando a depressão e a demência como
doenças que podem se desenvolver por causa do etarismo.
No questionário os participantes revelam a importância de se combater o
etarismo, assim como os benefícios de uma sociedade menos preconceituosa
com pessoas de diferentes faixas etárias, em comentários como os abaixo os
benefícios da diminuição do preconceito são evidentes.
“Respeito a dignidade humana. Entender como o Brasil sofreu o fenômeno de
envelhecimento rápido da sua população. Principalmente da faixa etária 80+.
Que essas pessoas possuem grande conhecimento e muita experiência de
vida”
“Evitá-lo permitirá maior aprendizado para o jovem (com a experiência do mais
velho) e reinserção do mais velho no mundo contemporâneo”
“Melhora da convivência e aprendizado para os jovens na convivência
harmônica com os mais velhos absorvendo a sua experiência.”
O etarismo é consequência de diversos fatores sociais, entre eles a educação,
conscientiza sobre o preconceito é uma das mais eficientes formas de combate,
mas políticas públicas para pessoas idosas e a mudança de pensamento sobre crianças e adolescente devem começar em família, como ressalta o comentário
de participante do questionário.
“A importância de educar os jovens perpetua na criação de uma sociedade
mais respeitosa, com mais políticas públicas que ajudam na manutenção da
aposentadoria da população acima de 60 anos, desenvolvendo melhor o
respeito e o convívio entre seres humanos.”
A educação é essencial para desenvolvimento de políticas públicas para idosos
e para prática do respeito entre gerações.
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