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Espetáculo “Rainha Vashti”, do Grupo A RODA, mantém viva na Bahia a arte milenar do teatro de sombras

Salvador volta a ser palco de uma das mais antigas e encantadoras expressões cênicas do mundo: o teatro de sombras. O Grupo A RODA estreia, no próximo dia 13 de novembro, o espetáculo “Rainha Vashti”, inspirado no poema homônimo da premiada escritora baiana Myriam Fraga. A montagem será apresentada no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), com temporada até 12 de dezembro, sempre às quintas e sextas-feiras, em sessões às 18h30 e, em algumas datas, às 20h. Os ingressos custam R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada), disponíveis pela plataforma Sympla.

Com direção e adaptação de Olga Gómez, a peça propõe uma experiência sensorial e poética voltada para o público adulto. Em cena — ou, mais precisamente, atrás da tela — quatro atores-animadores dão vida às 150 figuras de sombra criadas pela diretora: Arthur Lustosa, Diego Neres, Hannah Pfeifer e Paulo Borges. A narração é assinada por Rita Assemany, com trilha sonora composta por Uibitu Smetak e Amanda Smetak, inspirada na tradição musical persa dos makams.

A força simbólica da Rainha Vashti

A narrativa retoma a história bíblica da rainha Vashti, esposa do rei Ashuero, que se recusa a obedecer à ordem do monarca para dançar diante dos convidados do palácio. O ato de desobediência, visto como um gesto de coragem e integridade, lhe custa o trono — mas também transforma seu nome em símbolo de resistência feminina.

Na montagem, a desobediência de Vashti ganha nova leitura: a voz silenciada da mulher se torna metáfora da fragilidade do poder e do autoritarismo. “A poesia nos torna mais atentos, e o teatro de sombras é uma arte dos sentidos — juntos, eles criam uma experiência emocional única”, explica Olga Gómez, que também assina a criação das figuras.

A diretora destaca que o espetáculo é resultado de um trabalho coletivo do núcleo de pesquisa em animação da companhia. “Myriam Fraga nos confiou esse poema ainda em vida. Montá-lo agora é cumprir uma promessa e celebrar sua memória poética”, afirma.

Voz, música e sombras: uma dramaturgia sensorial

A atriz Rita Assemany descreve a experiência de atuar sem estar fisicamente em cena como um desafio libertador. “Sou todas as personagens apenas com a voz — o rei, a rainha, os profetas. É uma atuação em que o corpo se dissolve na palavra e na sombra”, explica.

Já a trilha sonora, composta por Uibitu e Amanda Smetak, complementa a encenação com sonoridades delicadas que dialogam com a estética das sombras. “Utilizamos violino, piano e flautas doces, além de percussões sutis. A música precisa ser parte da sombra — não competir com ela”, revela Uibitu.

Tradição e inovação na arte de Olga Gómez

Artista plástica e diretora argentina radicada em Salvador desde 1986, Olga Gómez é uma das principais referências do teatro de animação no Brasil. À frente do Grupo A RODA, fundado em 1997, ela construiu uma trajetória marcada por espetáculos premiados como “A Cobra Morde o Rabo”, “Amor & Loucura” e “O Pássaro do Sol”, este último vencedor do Prêmio Braskem de Teatro em 2010.

Com “Rainha Vashti”, a diretora reafirma o compromisso da companhia com a preservação e renovação do teatro de sombras, arte milenar que une imagem, movimento e luz em uma linguagem de rara beleza.