A revista “Veja” teve acesso a um processo em que a ex-mulher do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle disputava com ele a guarda de um filho dos dois, hoje com 20 anos, e pedia pensão alimentícia. Segundo a revista, Ana Cristina alegava que Bolsonaro se recusava a fazer a partilha justa dos bens.
O processo é de abril de 2008, da 1ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do Rio.
A revista afirma que, na ação, Ana Cristina anexou uma lista de bens e a declaração do Imposto de Renda de Bolsonaro relativa àquele período.
A lista discrimina 17 bens arrolados – incluindo três casas, três salas, um apartamento, três lotes, cinco veículos e uma moto-aquática. Os bens somavam R$ 4 milhões que, segundo a revista, equivalem em valores atualizados a R$ 7,8 milhões.
A revista compara a declaração de imposto de renda que consta do processo com a relação de bens apresentada, em 2006, à Justiça Eleitoral por Bolsonaro, em que o deputado declarou R$ 433.934. O valor é, portanto, inferior ao que consta no Imposto de Renda dele.
O advogado Daniane Furtado, especialista em direito eleitoral, disse à revista que a omissão de bens na declaração à Justiça Eleitoral pode ser enquadrada nos crimes de falsidade ideológica e sonegação. Há, porém, entendimentos diversos. O jurista André Tavares, ex-diretor da Escola Judiciária Eleitoral do TSE, ouvido pela TV Globo, diz que a Justiça tem entendido que não constitui falsidade ideológica omitir bens na declaração à Justiça Eleitoral.
Capa da revista “Veja” de 28 de setembro de 2018 — Foto: Reprodução
Condição financeira próspera
A reportagem revela que no processo Ana Cristina diz que Bolsonaro tinha uma próspera condição financeira. E que a renda mensal do deputado chegava a R$ 100 mil reais – R$ 183 mil em valores atualizados.
Naquela época, Bolsonaro recebia R$ 26,7 mil como deputado e R$ 8,6 mil como militar da reserva. No processo, Ana Cristina diz que, para totalizar os R$ 100 mil reais, Bolsonaro recebia outros proventos. Mas ela não identifica a origem desses recursos.
A reportagem publica o trecho do pedido de pensão em que Ana Cristina faz essa afirmação.
Furto de cofre
A revista reproduz ainda um boletim de ocorrência policial de 26 de outubro de 2007 em que Ana Cristina denuncia o furto de R$ 600 mil em joias, US$ 30 mil e R$ 200 mil em dinheiro vivo guardados num cofre alugado por ela numa agência do Banco do Brasil, no Centro do Rio. A reportagem afirma que esses valores são incompatíveis com os rendimentos do casal.
Segundo a revista, Ana Cristina acusou Bolsonaro do furto.
O registro do furto do conteúdo do cofre na polícia foi confirmado pela revista e pela TV Globo. Ana Cristina foi chamada para depor nesse inquérito, mas jamais compareceu. A investigação foi arquivada pela polícia.
Num depoimento a que “Veja” teve acesso, um gerente do banco, Alberto Carraz, confirmou que o casal mantinha cofres na agência e que o cofre de Ana Cristina teve o conteúdo furtado.
A revista revela que Carraz foi ele próprio acusado há dois anos de furtar mais de R$ 2 milhões de vários cofres da agência do Banco do Brasil onde trabalhava. A revista indaga: poderia ter sido ele o então ladrão do cofre de Ana Cristina? Mas a própria revista afirma que na lista de supostas vítimas de Carraz não aparece o nome de Ana Cristina nem de Bolsonaro.
Naquela época, o repórter Eduardo Tchao mostrou no Fantástico a prisão de Carraz pelo furto dos cofres da agência onde trabalhava.
Repórter: Você traiu a confiança dos seus clientes?
Carraz: Não, Tchao, não tem nada disso, está havendo um equívoco muito grande.
Repórter: Você não levou dinheiro para as gavetas?
Carraz: De jeito nenhum, não tem nenhuma prova, se existisse provas, estaria preso há muito tempo.
Repórter: Tem imagens do senhor levando.
Carraz: Não tem não.
Na reportagem, o Fantástico revelou que Carraz foi descoberto a partir da denúncia de uma cliente e de imagens do próprio banco que mostram o gerente retirando valores dos cofres.
Acusações de chantagem e ameaças
Segundo a revista, na fase em que discutia a guarda do filho, a defesa de Bolsonaro juntou um depoimento em que o deputado acusava a mulher de chantageá-lo. Dizia que Ana Cristina tinha levado o filho para o exterior e condicionava o retorno da criança à devolução do dinheiro e das joias supostamente tiradas do cofre.
Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo publicou telegramas do Itamaraty em que Ana Cristina diz ao cônsul brasileiro que foi para a Noruega depois de ameaçada de morte pelo ex-marido. Ana Cristina negou que tenha falado em ameaça ao cônsul e se disse indignada com a reportagem.
No processo de separação a que a Veja teve acesso, Ana Cristina afirma ainda que o motivo da separação foi o comportamento explosivo e de desmedida agressividade de Bolsonaro.
Bolsonaro e Ana Cristina se separaram oficialmente em 2008. A revista relata que a disputa pelos bens foi resolvida nos termos reivindicados por Ana Cristina e o valor da pensão foi acertado.
Hoje Ana Cristina é candidata a deputada federal e se identifica como Cristina Bolsonaro.
O que disse Ana Cristina
Sobre as acusações, Ana Cristina afirmou à revista que foram fruto de excessos retóricos. Numa curta entrevista à revista, ela disse que as joias e o dinheiro eram coisas dela, coisas do marido e joias que ganhou dele.
Disse que não se lembra por que não atendeu às convocações da polícia para depor sobre o suposto furto das joias.
Ana Cristina disse que, “brava, fala besteira”.
Em outro momento da reportagem Ana Cristina negou as acusações que fez no processo. Disse que, “quando está magoada, fala coisas que não deveria”. Questionada sobre outros rendimentos e a vida afortunada do candidato, perguntou: “Eu falei isso?”
Sobre as acusações de que Bolsonaro era explosivo e de desmedida agressividade, Ana Cristina disse à revista que Bolsonaro é “digno, carinhoso, honesto e provedor”. Acrescentou que, “apesar de machão, ama os filhos incondicionalmente e trata suas mulheres como princesas”.
A reportagem da TV Globo foi até a casa de Ana Cristina, em Resende, no interior do estado do Rio, mas a pessoa que atendeu se recusou a falar com a equipe.
A reoprtagem não conseguiu localizar o gerente de banco Alberto Carraz.
O que disse Bolsonaro
Na manhã desta sexta-feira (28), o candidato Jair Bolsonaro disse que “mais uma vez parte da mídia de sempre lança seus últimos ataques na vã tentativa de me desconstruir. O sistema agoniza, vamos vencê-lo.” Disse também também em post no Twitter: “Há anos tentam nos parar com rótulos criminosos falsos e com meias verdades distorcidas. Nos últimos meses os ataques se intensificaram, mas continuamos firmes. Se 1% desse serviço fosse fieto contra meus adversários, apenas com verdades, venceríamos por W.O.”
A reportagem da TV Globo foi até a casa de Ana Cristina, em Resende, no interior do estado do Rio, mas a pessoa que atendeu se recusou a falar com a equipoe. era parte da imprensa aparelhada, mas apenas as relaçõe$ promíscuas com a esquerda, nocivas à informação e à democracia”, publicoe
Os filhos também se manifestaram nas redes sociais. Carlos Bolsonaro afirmou: “Pelo jeito a imprensa nem dormiu esta madrugada! Começaram com a mais maciça ação do período eleitoral por volta de 2:00AM e agindo em bloco. Por que será que não há essa preocupação com os outros candidatos? É o sistema! Muito tranquilo! Mais uma vez se darão mal!”.
E Eduardo escreveu: “O sistema contra-ataca contra Bolsonaro criando factóides para jogar as mulheres contra ele. Isso é um bom sinal, representa a realidade de eleição no 1º turno. O que não é um problema não deve ser tratado como problema.”
O que diz o TSE
A legislação eleitoral apenas exige que a declaração de bens seja um dos documentos enviados no ato do pedido de registro. Não há qualquer julgamento por parte da Justiça Eleitoral em relação à esta declaração. Além disso, não há a obrigação de a declaração de bens ser idêntica à declaração enviada à Receita Federal.
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