Uma missa na cidade de Candeias, na região metropolitana de Salvador, lembra o sétimo dia de morte do artista plástico Manoel Arnaldo dos Santos Filho, nesta sexta-feira (27).
Conhecido como Nadinho e querido pela comunidade local, ele foi morto em ação da Polícia Militar, no sábado (21) dentro da casa que morava e usava como ateliê. A corregedoria da PM apura o caso.
A cerimônia religiosa reúne amigos e familiares da vítima, que fizeram protestos no domingo (22) e segunda-feira (23), nos dois dias após a morte de Nadinho.
Uma das filhas de Arnaldo, Marisa Marinho, diz que a família não teve descanso nos últimos dias, na luta por justiça. Ele era pai de outras duas filhas e mais um rapaz.
“A gente precisa de justiça porque precisamos chorar, precisamos descansar. A gente chega em casa cansado, atrás de justiça. A Justiça precisa saber que meu pai era inocente e um homem bom”
Também filha de Arnaldo, Maraisa Marinho diz que a família está em busca de explicações sobre o crime.
“Estamos correndo, buscando testemunhas. Estamos correndo para que meu pai seja inocentado. Inocentar o inocente”
Maraisa informa que a família vai fazer uma nova manifestação às 18h desta sexta-feira (27), caminhando da casa onde Arnaldo foi morto até uma praça da cidade de Candeias.
“A gente tem que levantar forças não sei de onde para poder lutar por uma coisa. A integridade de uma pessoa a gente acha que vai valer uma morte digna. E agora a gente ter uma morte dessa é muito difícil. Pense para nós, parentes, filhos, para minha mãe, como é dificil aceitar isso. É uma dor que não desejo para nenhuma familia. Nem desejo isso para a família desses policiais que tiraram a vida de meu pai. Eu quero justiça”, afirma Maraisa.
A jovem diz que aguarda uma reunião com o governador Rui Costa para pedir uma apuração sobre o caso. “Estamos aguardando o governador para ele falar conosco. Governador, eu preciso falar com você. Esse crime não pode ficar impune, meu pai foi assassinado e a gente precisa de Justiça”, apela.
Homenagem
Outro filho do artista plástico Manoel Arnaldo dos Santos Filho, Arnaldo Neto, gravou um vídeo em homenagem ao pai. Publicado na internet na terça-feira (24), o vídeo traz vestido de preto, lendo uma mensagem que escreveu para o artista. No texto, ele Arnaldo descreve o pai como um “grande homem”.
“Sorriso fácil e coração puro. Deus era sua base e a família era seu maior presente. Sua arma era a honestidade, sua arma era a dignidade, sua arma era o amor, sua arma era a fé. E é com essa mesma fé que vamos seguindo, aqui lutando. Lutando por justiça, lutando por você”
Ação policial
Segundo a Polícia Militar, uma denúncia chegou por telefone na noite de sábado, via Centro Intregado de Comunicação (Cicom), de que suspeitos estavam em rua próxima à casa do artista, a segunda travessa 31 de março, na casa 15, em Candeias.
No entanto, os policiais foram até o endereço errado, na casa do artista, localizada na primeira travessa 31 de março, numero 11.
A versão dos policiais é de que o artista teria disparado duas vezes contra os policiais da janela, mas a arma teria falhado. Os policiais então dispararam contra ele, que não resistiu aos ferimentos e morreu.
Os familiares, no entanto, dizem que Arnaldo não tinha arma e que vizinhos tentaram impedir que os policiais atirassem, gritando que ele era um “homem de bem”.
A família se reuniu com o comandante geral da PM na terça-feira, na sede da instituição, no Largo dos Aflitos, em Salvador, para cobrar apuração sobre o caso.
Os três policiais envolvidos na ação que terminou com a morte de Nadinho foram afastados das atividades na rua, mas ainda continuam com funções administrativas.
O titular da delegacia de Candeias, delegado Marcos Laranjeira, disse que o caso não será apurado por meio de inquérito pela Polícia Civil e que será apurado pela Corregedoria da PM, conforme já adiantado pela corporação. Ele afirmou que foi lavrado um auto de resistência por policiais após a ação.
“Há o entendimento de que a competência é da Justiça Militar. Quando ocorreu o fato, foi passado para a corregedoria de Salvador. Vou ouvir testemunhas, mas como base nos depoimentos, não podemos indiciar, porque tenho que ser acionado pelo Ministério Público, pela Justiça ou pela Secretaria de Segurança Pública”, afirmou o delegado.
G1/Bahia
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