MADRI — Com 99,7% dos votos apurados, nenhum partido conseguiu os 176 assentos necessários para formar um governo na Espanha , prolongando ainda mais o impasse político que fez o país ibérico ir às urnas quatro vezes nos últimos quatro anos, a última delas no dia 28 de abril. O resultado confirma o crescimento da extrema direita, que mais que duplica seus assentos, transformando-se na terceira maior força política no Parlamento.
O quarto lugar foi ocupado pelo partido de esquerda Unidas Podemos , que passou de 42 assentos para 35. Em seguida, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) teve resultado similar ao de abril, passando de 15 para 13 assentos. O Ciudadanos , que conquistou 57 assentos há sete meses, teve uma performance bastante inferior, elegendo apenas 10 deputados. O líder do partido, Albert Rivera, disse que o resultado é “inexcusável” e que a sigla realizará um congresso para definir os próximos passos.
Às 18h, a participação nas eleições era de 56,86%, cerca de quatro pontos percentuais a menos que em abril, em que 60,74% do eleitorado compareceu às urnas.
Políticos de lados diferentes do espectro vêm conversando entre si e prometem que chegarão a um acordo, mas analistas creem que um novo pleito não é uma possibilidade de todo irreal.
Sem maioria
O primeiro-ministro em exercício, no entanto, comemorou a vitória socialista, fazendo um pedido para que “todos os partidos” atuem com “responsabilidade” para romper o impasse político com a formação de um governo progressista.
A combinação mais provável para um novo governo é que Sánchez se una a Pablo Iglesias, do Unidas Podemos, mas o premier interino demonstra uma certa má vontade que já impediu a aliança em outras duas ocasiões. Mesmo que os líderes consigam superar suas diferenças, os dois partidos juntos não teriam assentos necessários para formar uma maioria, precisando se unir com siglas menores para governar.
— Se, depois das eleições de abril, um governo de coalizão progressista era uma oportunidade histórica, agora é uma necessidade histórica — disse Iglesias, mostrando-se disposto a formar um governo com o PSOE. — A única maneira de frear a extrema direita é um governo estável que garanta políticas sociais imprescindíveis.
Apesar dos impasses anteriores, alguns fatores alteraram o cenário político espanhol desde as últimas eleições: a sentença que condenou a até 13 anos de prisão líderes independentistas da Catalunha, desatando protestos violentos naquela região e inflando o discurso da extrema direita baseado numa resposta eminentemente policial, e a exumação do corpo do ditador Francisco Franco.
Isto impactou bastante o Cidadãos, que passou de terceiro para sexto partido mais popular do Parlamento. A sigla, que nasceu como uma alternativa de centro, deu uma guinada à direita, perdendo seus eleitores que tendiam para o outro lado do espectro político. A sangria piorou depois da condenação dos soberanistas catalães: defensor da intervenção do poder central na Catalunha para conter a tentativa de secessão, o Cidadãos viu como o Vox lhe roubava o discurso com muito mais contundência ao prometer estado de exceção, toque de recolher e banimento dos partidos independentistas.
Sem dúvidas, o Vox sai como grande vencedor deste domingo — seu líder, Santiago Abascal, diz que quer construir uma “alternativa patriótica” para a Espanha. Fundado em 2013 por ex-integrantes da ala mais à direita do Partido Popular, a sigla eurocética levanta bandeiras anti-imigração, antifeminista, nacionalistas e a favor da unidade espanhola. Uma de suas pautas principais é abolir a autonomia e Parlamentos regionais — algo que ganhou força com a crise recente na Catalunha.
O partido chegou ao poder pela primeira vez nas eleições de dezembro do ano passado, quando ganhou 12 cadeiras nas eleições regionais em Andalusia. Ele se alinha com o movimento populista que ganha força em outras nações europeias, como Itália, Aústria, Alemanha e Dinamarca. Sua oposição veemente à exumação do ex-ditador Franco também também lhe fez ganhar a simpatia de setores à direita.
O Globo
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