Em tempos de eleições municipais surgem inúmeros candidatos com as mais variadas propostas e intenções. No recôncavo baiano não é diferente. Um dos requerentes que aposta na educação para garantir uma vaga na Câmara Municipal de Santo Amaro da Purificação é o professor Adriano Portela que atua na Educação Superior fora de Santo Amaro e, dentro do município, integra a rede pública de ensino e também a rede particular. O Resenha de Notícias foi conhecer de perto um pouco de suas ideias e visão sobre as necessidades do município. Confira em nosso Top 6.
RN: Quem é Adriano Portela?
Sou um homem negro, nascido em Santo Amaro, em 1984, numa família residente no bairro do Sacramento. Como tantos jovens de minha geração, saí da cidade para estudar e, por isso mesmo, valorizo e incentivo o ingresso de santamarenses nas universidades que hoje existem em Santo Amaro e adjacências. No meu caso, tive que ir para Salvador, onde fiz duas graduações na UCSAL, além de especialização, mestrado e doutorado na UFBA.
Sou casado e tenho um filho. Atuo na Educação Superior fora de Santo Amaro e, dentro do município, integro a rede pública de ensino e também a rede particular. Além disso, tenho alguns livros publicados e o primeiro deles foi fruto de uma pesquisa que realizei sobre os 400 anos de criação da Paróquia Nossa Senhora da Purificação.
RN-Como foi parar na política e o que o levou?
Desde minha adolescência, estive ligado a assuntos de comunidade, assumindo a liderança da Pastoral da Juventude Estudantil (PJE), em Santo Amaro. E essa marca continuou nas cidades por onde passei: Salvador, Vera Cruz e Feira de Santana. Nestes lugares, como também em Santo Amaro, envolvi-me com a formação de jovens, a organização social e os interesses para a melhoria da qualidade de vida.
Quanto tornei-me servidor público há quase seis anos, passei a participar de manifestações e protestos, interessei-me por política partidária e entendi que sem organização social não atingimos os nossos objetivos enquanto cidadão.
E terminei me filiando ao PSB a partir de Aninha Melo, presidente do partido em Santo Amaro e que havia sido minha professora há muitos anos. Vi como um passo natural da caminhada que vim fazendo da vida de comunidade à organização social. É um desejo crescente de me comprometer os destinos das gentes e do lugar em que meus pés pisam.
RN- O que o levou a querer ser vereador pela cidade de Santo Amaro? Qual a motivação?
A candidatura apareceu para mim como um convite. Após o susto, veio a alegria de me saber reconhecido enquanto um cidadão que pode contribuir para a cidade. A decisão de realmente me candidatar se deu após consultar pessoas diversas acerca do convite, porque não adianta você disponibilizar o seu nome se você sente haver resistência e rejeição à proposta. Felizmente, senti-me confirmado no caminho.
Tendo aceitado disponibilizar o meu nome para uma candidatura, o meu desejo foi de contribuir para Santo Amaro ser uma cidade mais justa e igualitária para todas as pessoas, mas de maneira muito particular para as pessoas negras. Somos uma cidade em que 89,3% da população se declarou negra no Censo do IBGE 2010. Esta é uma realidade que faz com que políticas públicas para a negritude não seja uma opção para quem deseja ser legislador no município, mas sim uma obrigação.
Isso tem a ver com ajudar a cidade a se ver, colaborar para o bem estar social, ajudar as pessoas a sentirem que têm direito à cidade.
RN- Como vereador o que poderá fazer pelo município?
A primeira coisa que entendo que posso contribuir é com a melhoria da vida política do município, firmando uma agenda política criativa, positiva e inclusiva, porque eu sei que isso trará objetividade ao mandato, já que o papel do agente político é construir políticas públicas.
Entendi logo de começo que a proposta devia partir da minha existência, quer dizer, da relação com a educação e com a juventude, já que sou professor da rede municipal; assim como com a negritude e a cultura, porque sou um homem negro, numa das cidades mais negras do Brasil e que tem a cultura como uma de suas maiores riquezas.
Então, tenho pensado, por exemplo, em trabalhar em prol da inserção da música na Escola, assim como o esporte. Isso é o que sempre se pensa, e inclusive houve acenos aqui e ali para isso, mas nada sistemático e permanente no currículo escolar.
Outra coisa sobre a qual temos que insistir é acerca do Fundo Municipal de Cultura. Não pode um município rico em expressões de cultura popular não fortalecer essas expressões. Precisamos executar o Fundo de Cultura e assegura legalmente também que uma determinada porcentagem do orçamento da cultura seja destinado à cultura popular. Perdemos tempo em não fazer isso!
Tem muita coisa que temos pensado, mas não dá para esmiuçar tudo aqui. Quem desejar, pode consultar o Plano de Ação em meu blog: www.adrianoportela.wordpress.com.
RN-Qual o motivo da escolha do atual partido o PSB?
Tenho uma pauta progressista. Preocupo-me com as questões identitárias, quer dizer: o empoderamento feminino, o combate ao racismo e à intolerância religiosa, a inclusão LGBTI +. Como também me preocupo com a sustentabilidade ambiental, a educação pública, gratuita e de qualidade, a segurança alimentar, enfim, o acesso igualitário a direitos comuns e ao bem estar-social.
Além do fato de haver recebido o convite de minha querida Profa. Aninha Melo, senti-me motivado a me filiar ao PSB pelo fato de que estas pautas que me interessam serem do interesse do partido em âmbito nacional, e fazem parte de sua história. Aqui no Estado, por exemplo, o partido tem tido uma atuação formidável, como no incentivo à participação feminina na política.
RN-Não é novidade pra ninguém que as áreas de saúde e educação são prioridades de qualquer administração pública. Na sua visão o que precisa ser melhorado na cidade nesses quesitos?
O município recebeu recentemente a nota 4,7 no IDEB, a maior nota até então, mas isso faz parte de um contexto de 20 anos de crescimento, se você olhar retrospectivamente a série de notas. Isso tem a ver, é preciso dizer, com um conjunto de políticas públicas em nível federal.
Mas ainda não é hora de celebrarmos. Não obstante tenhamos obtido essa nota, precisamos apresentar uma proposta diferenciada para a zona rural, onde a avaliação do ensino/aprendizagem tem sido baixa – exceção ao caso de São Braz (maior IDEB do Município). As notas baixas da Zona Rural estão diretamente relacionadas às questões identitárias também. Não tenho certeza, mas parece-me que os maiores índices de negros no município estão na zona rural. Esses meninos e meninas têm uma outra cultura de vida. Precisamos de uma proposta de educação contextualizada para esses jovens da zona rural, para os meninos e meninas sintam-se identificados com o que a escola oferece.
Ademais, o transporte faz tempo que é uma questão grave para essa juventude: a rotina de ônibus quebrado, falta de combustível, atrasos… quebra a motivação para a dinâmica da vida escolar. Parece algo pouco, mas não é: o prejuízo é grande! A problemática do transporte escolar não é a única vilã, mas contribui também para que o índice de evasão escolar seja grande nessa área.
E as questões não acabam aí. Não temos como melhorar a Educação sem a valorização de professores e demais profissionais da Educação. Atualmente temos uma realidade ruim nesse quesito, no município. Há categorias que estão há anos sem reajuste salarial e, no aso dos professores, desde o segundo semestre de 2018, a atual gestão municipal não paga a mudança de nível por qualificação profissional (pós-graduações). Além de, neste ano, não haver feito o reajuste salarial dos professores (as), conforme determina a lei federal do piso salarial do magistério.
Em relação à saúde, a primeira coisa é pensar em saúde integral, isto é, um conjunto de coisas faz parte da saúde: cuidar da sustentabilidade ambiental, cuidar do equilíbrio das relações, cuidar do corpo em si. Então, precisamos investir mais na precaução para não termos grande dispêndio no tratamento. O caminho para isso é uma cidade verde, promotora de esporte e de hábitos de higiene mental.
Mas algo urgente que precisamos fazer no município é reabrir a discussão sobre a decisão de termos nos tornado “Comando Único” no SUS, a qual fortaleceu a administração municipal dos recursos da saúde por um lado; mas fragilizou a rede por perdermos um vínculo mais estrito com o Estado, que deixa de ter obrigação de investir no município.
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