A revista Veja traz na próxima edição de sua publicação novas mensagens reveladas e divulgadas em parceria com o site The Intercept, que aponta ilegalidade na conduta do então juiz Sérgio Moro e do procurador Deltan Dallagnol, no âmbito da Lava Jato.
Com forte histórico antipetista, o veículo jornalístico, que é considerado mais à direita, avalia a atuação do atual ministro da Justiça e Segurança Pública do Governo Bolsonaro como ilegal. O material, segundo a publicação, confirma que Moro seguiu liderando a acusação e ferindo a imparcialidade da Justiça.
Em sua conduta como juiz, Sérgio Moro deveria ter sido imparcial, o que não ocorreu. Conforme noticiado pelo The Intercept e Veja, a narrativa de Moro como herói nacional ou como juiz imparcial torna-se insustentável. Para os veículos, após a análise das mensagens, “fica evidente que as ordens do então juiz eram cumpridas à risca pelo Ministério Público e que ele se comportava como parte da equipe de investigação, uma espécie de técnico do time — não como um magistrado imparcial”.
Nesta edição, o editorial da Veja também refuta a estratégia cínica que vem sendo empregada por Moro, Dallagnol e os demais procuradores da Lava Jato de insinuar que o material publicado pode ser editado ou falso. No entanto, ainda conforme o editorial, todos os evolvidos no escâdalo da “Vaza Jato” – como passou a ser chamada a operação após as mensagens serem divulgadas – nunca apontaram exatamente onde estariam as adulterações.
A revista afirma que os repórteres da Veja passaram semanas investigando e analisando jornalisticamente o material, e confirmaram sua autenticidade. “Foram analisadas pela reportagem 649.551 mensagens. Palavra por palavra, as comunicações analisadas pela equipe são verdadeiras e a apuração mostra que o caso é ainda mais grave. Moro cometeu, sim, irregularidades”, diz a publicação.
A batuta de Moro
O editorial também traz exemplos que Moro orientou os procuradores a tornar mais robusta uma peça. No dia 28 de abril de 2016, Dallagnol, então chefe da força-tarefa em Curitiba, informa a procuradora Laura Tessler que Moro o havia avisado sobre a falta de uma informação na denúncia de um réu — Zwi Skornicki, representante da Keppel Fels, estaleiro que tinha contratos com a Petrobras para a construção de plataformas de petróleo, e um dos principais operadores de propina no esquema de corrupção da Petrobras.
Skornicki passou a ser delator da Lava Jato e confessou que pagou propinas a vários funcionários da estatal, entre eles, Eduardo Musa, mencionado por Deltan na conversa. “Laura no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do Musa e se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e dá tempo. Só é bom avisar ele”, diz. “Ih, vou ver”, responde a procuradora.
O MPF, então, incluiu um comprovante de depósito de 80. 000 dólares feito por Skornicki a Musa. Feito isto, Moro publica sua sentença e recebe o aditamento com a informação sobre o depósito depois disso. Ou seja: ele claramente ajudou um dos lados do processo a fortalecer sua posição.
Outro exemplo, o então juiz e o procurador, Moro e Dallagnol, respectivamente, mostram intimidade na troca de informações – um comportamento que, segundo a reportagem da Veja, classificou como sinal do “nível elevado (e indesejável) da promiscuidade entre os dois. E que pode levar a suspeição de Moro. No episódio, Dallagnol não vê problemas em enviar ao juiz exemplos de decisões de outros magistrados para quando ele “precisar prender alguém” ao responder sobre o pedido de revogação da prisão preventiva do amigo de Lula, José Carlos Bumlai, em dezembro de 2015.
“A conduta de Moro é perigosa porque viola não só os direitos dos réus nesse caso, mas abre um precedente que põe em risco todos os futuros réus que serão julgados num sistema judicial que parece ignorar o mais básico dos princípios: a neutralidade e imparcialidade do juiz”, diz a publicação.
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