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Diretor do Bahia explica crescimento de dívida: “A gente já reconheceu R$ 119 mi”

Um estudo recente divulgado pelo Itaú BBA revelou que as dívidas do Bahia cresceram nos últimos anos. Em 2012, o Tricolor possuía débitos declarados de aproximadamente R$ 72 milhões. No ano passado, o valor era quase três vezes maior, com R$ 193 milhões a serem pagos a diversos credores. A primeira interpretação seria de uma gestão temerária. Mas o contexto é essencial para entender como as contas do clube saltaram nos últimos anos. O diretor administrativo-financeiro, Marcelo Barros, esclarece que não houve uma elevação descontrolada nos gastos. As contas estão equilibradas, o que acontece é a admissão de questões mal resolvidas no passado.

A metáfora que encaixa na situação é a de um iceberg. Em 2012, apenas uma parcela da dívida era visível. Segundo Barros, no decorrer dos anos, foram descobertos novos débitos. A massa oculta pela água passou a ser visível e acabou retratada no estudo desenvolvido pelo banco.

– Na verdade, o pessoal lá do BBA não tem como conhecer os detalhes do histórico do Bahia. Para eles, fica aparecendo como dívida quando, na verdade, o que ocorreu é que a gestão veio reconhecendo dívidas de lá da época anterior à intervenção que não eram reconhecidas no balanço. Tem que informar o que, de fato, existe. É obrigação nossa, no momento que tem conhecimento, registrar essas dívidas. Então, estava fazendo um levantamento aqui que em 2013, depois da intervenção, foram reconhecidos R$ 47 milhões de dívidas. Em 2014, mais R$ 32 [milhões]. Em 2015 mais R$ 27 [milhões], e em 2016 nós reconhecemos mais R$ 13 [milhões] – comentou.

O diretor tricolor afirma que a maior parte da dívida atual do Bahia corresponde a valores firmados antes de 2013, e que foram reconhecidos posteriormente. Em alguns casos, sequer há a chance de admitir o débito, devido ao tempo transcorrido.

– Para você ter uma ideia, uma gerente de um banco me ligou para dizer que eles estavam querendo compensar um cheque, acho que de 2007. Eu disse: “Minha senhora, para mim, esse cheque prescreveu, não tem mais validade”. Ela disse: “Posso recusar?” Eu disse: “Claro, não tenha dúvida”. Essas coisas loucas e estranhas que acontecem, eu acredito que no futuro não vai acontecer isso. Ao todo, fiz até a soma, de 2013 para 2016, a gente já reconheceu R$ 119 milhões em dívidas.

Em 2016, o Bahia aderiu ao Profut e ganhou 240 meses para quitar R$ 87 milhões em dívidas com a União. E até mesmo o programa federal reservou surpresas para a administração tricolor.

– Tem coisa que a gente descobre por acaso. Ou porque o credor vem cobrar da gente. Me lembro que no ano passado, a Caixa Econômica, depois que a gente tinha feito o parcelamento do Profut, uns três meses depois, nos mandou uma comunicação dizendo que eles tinham descoberto que lá tinha mais R$ 5 milhões que eles não tinham colocado no Profut.

Evolução e pagamento da dívida

O iceberg de dívidas, hoje, não é uma ameaça de naufrágio para o Bahia. Marcelo Barros é otimista com relação às contas do clube. Diz que a situação não deve se repetir com as próximas gestões e que a transparência traz segurança para uma análise financeira do Tricolor.

– Eu acredito que agora deva estar em uma situação bem melhor. O que está no balanço, hoje a gente tem uma confiança de dizer que seja verdade. Mas, como o histórico é complicado, não tem como dar 100% de certeza.

Barros destaca que a dívida global do Bahia poderia ser maior, mas nos últimos anos houve um esforço para quitar parte dos débitos. O valor é alto, quase equivalente ao que o clube gastou durante todo o exercício de 2016.

– A gente pagou R$ 72 milhões, mais ou menos, só nessa gestão [em dívidas]. Estava comentando com Marcelo Sant’Ana outro dia. Se você olhar que a média de faturamento do Bahia nesses três anos vai ser por volta de R$ 75 [milhões], vai ser como se ele tivesse administrado nesses três com o dinheiro de dois. Um ano inteiro de faturamento só para pagamento de dívida. A gente paga, hoje, mais de um R$ 1 milhão por mês só de dívida.

Com dívidas numerosas, o diretor tricolor conta que é preciso ter equilíbrio. Cortar gastos e reduzir despesas. O plano é o de ter os débitos equacionados até o fim da gestão, em dezembro.

– Fazer corte de custos para que as despesas do dia a dia sejam menores que a receita. E o que sobrar, você tira para pagar. É conta de matemática simples. Na verdade, a matemática complica um pouco pelo tamanho das dívidas. Acredito que quando chegar no final desse ano, quando concluir o mandato, essa gestão, a gente deve estar entregando com quase todas as dívidas parceladas de alguma forma suportável no fluxo de caixa do clube. Mas ainda é uma briga de mais três meses para garantir.

E para não formar um novo iceberg ou atuar como enxugador de gelo, Marcelo Barros aponta que é preciso elevar as receitas. O caminho mais curto é a associação em massa. Atualmente, o clube possui cerca de 15 mil sócios. A maior fonte de renda disponível, como indica o estudo do Itaú BBA, é a cota de televisão.

– O trabalho que se tem que fazer para um clube ter sustentabilidade e conseguir suportar essas dívidas que ainda vão levar uns dez anos para se pagar, é plano de sócio. Se o torcedor entender que ele tem que ele tem que ser sócio para o clube não depender mais dos outros, acredito que a gente vai chegar em um estágio onde a receita de TV vai continuar sendo importante, mas não vai ser a única coisa importante.