O QUE É NOTÍCIA, VOCÊ CONFERE AQUI!

Custo de vida; 52% da população sente alto nível de estresse com as finanças

Lidar com as finanças muitas vezes causa dor de cabeça para os brasileiros, especialmente quando as despesas se acumulam. Dados da 7ª edição do Raio X Brasileiro, realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o Datafolha, mostram que 52% da população brasileira sente um alto nível de estresse com as despesas. Além disso, o estudo constatou que 56% da população se preocupa com o medo de perder suas fontes de renda.

O levantamento realizado entre 9 e 29 de novembro de 2022, com 5.818 pessoas de todas as regiões do país, também mostrou que pouco mais de um terço da população (34%) teve gastos maiores do que a renda nos seis meses anteriores, sendo o Nordeste e o Norte as regiões com as maiores porcentagens de pessoas que gastaram mais do que ganharam – 44% e 37%, respectivamente.

Segundo Marcelo Billi, superintendente de Sustentabilidade, Inovação e Educação da Anbima, o estresse com as despesas está relacionado à falta de dinheiro e à preocupação em não pagar as contas em dia. Entre a classe D e E, o percentual é ainda maior do que na média da população, com 62% das respostas.

“A pesquisa mostra que pouco mais de um terço da população (34%) teve gastos maiores do que a renda nos seis meses que antecederam a pesquisa. É um percentual muito alto de pessoas que estão se endividando e perdendo o controle das próprias finanças. Não podemos ignorar questões estruturais do nosso país, em que ainda há altas taxas de desemprego e de desigualdade social, mas mesmo pessoas da classe A/B, com as melhores condições de renda, apontaram que gastaram mais do que ganharam nesse período”, fala Billi.

Psicóloga clínica e especialista em Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), Luana Albuquerque menciona que as finanças, por gerarem dores de cabeça e promover a ansiedade, levam muitas pessoas a evitarem conversas sobre dinheiro, despesas e renda mesmo com pessoas próximas.

“Dificuldades relacionadas às finanças pessoais são fontes comuns de ansiedade e preocupação para a maioria das pessoas, afinal o dinheiro é a nossa via de acesso para as coisas que precisamos e desejamos, e a escassez dele é, inegavelmente, um problema. No entanto, a maioria de nós não foi propriamente orientada sobre como fazer uma gestão financeira adequada. E apesar de sua evidente importância, falar sobre dinheiro – seja com amigos, familiares, parceiros ou no ambiente de trabalho – muitas vezes nos parece inapropriado”, relata a psicóloga.

Luana Albuquerque também reforça a importância dessa abordagem da psicologia para lidar com as finanças e reduzir o estresse. “A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) parte do princípio de que nossos pensamentos influenciam nossos sentimentos e comportamentos. Dito isso, o comportamento financeiro, como qualquer outro, está intimamente ligado aos nossos padrões de pensamento e às nossas emoções. Quando a relação com o dinheiro é uma queixa central do paciente, nós avaliamos e reformulamos os pensamentos distorcidos ou disfuncionais em relação ao dinheiro”.

O planejador de finanças pessoais, Raphael Carneiro, diz que, por um lado, ainda há um grande incentivo ao consumo, o que acaba levando ao gasto exagerado. Por outro, grande parte da população segue com renda inferior ao que seria necessário para uma vida digna, o que gera a necessidade de buscar outras fontes de renda, aumentando assim os problemas de saúde e estresse, ou então de viver sempre no limite.

Além disso, a preocupação com a perda da fonte de renda e não poder pagar as contas também está presente na maioria dos brasileiros. A psicóloga Luana Albuquerque explica que, em níveis moderados, esses receios incentivam escolhas financeiras mais sábias.

No entanto, quando se tornam excessivos e crônicos, esses sentimentos podem paralisar a pessoa e criar um ciclo de ansiedade. “É essencial reestruturar essa forma de pensar para adotar comportamentos mais conscientes e construir estratégias para uma relação mais saudável com a incerteza financeira”.

Hábitos saudáveis

Para evitar que as finanças se tornem uma bola de neve e causem dor de cabeça, é essencial realizar um bom planejamento financeiro e manter hábitos financeiros saudáveis. Raphael Carneiro destaca que um passo importante é compreender claramente o custo do próprio estilo de vida, independentemente da situação financeira. Isso vale tanto para quem luta para sobreviver quanto para quem tem uma boa renda, menciona o planejador financeiro. “Quando a pessoa passa a ter noção do que ganha e do que gasta, consegue se programar, ajustar os gastos onde é possível ou aumentar a luta para ter uma renda maior, o que não é tão fácil de conseguir”, afirma.

Raphael Carneiro comenta também que é fundamental um controle detalhado das despesas, registrando os gastos em um caderno, aplicativo ou planilha, conforme a preferência pessoal. “Alguns hábitos que podem ser mais saudáveis para as finanças podem ser evitar parcelamentos quando puder, tentar manter despesa abaixo da receita, cuidado com o uso do cartão de crédito, não contar com o limite da conta como uma parte da renda. São mais questões ligadas ao dia a dia que, colocadas em prática, têm um efeito grande na vida financeira das pessoas”.

A psicóloga Luana Albuquerque complementa que a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pode ser uma ferramenta eficaz para melhorar a saúde financeira ao incentivar o reconhecimento e a reformulação de padrões de pensamento prejudiciais. Além disso, a TCC ajuda a gerenciar emoções como ansiedade e culpa relacionadas a finanças, promovendo mecanismos de enfrentamento saudáveis.

“A relação com o dinheiro não precisa ser estressante, mas, para isso, devemos fazer um esforço ativo. Gerenciar bem não apenas o dinheiro, mas também a saúde mental. As escolhas não precisam ser puramente financeiras. Por exemplo, por mais que especialistas em finanças do YouTube expliquem por A mais B que comprar a tão sonhada casa própria é um mau negócio, essa escolha deve refletir uma combinação de fatores financeiros, emocionais e sociais, alinhados com nossos valores pessoais”, cita Luana Albuquerque.

A Tarde