Uma pesquisa identificou que o risco de uma criança contrairhanseníase na região Norte do Brasil é 34 vezes maior do que no Sul. O estudo foi realizado por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade de Brasília, Fiocruz Brasília, London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM) e Universidade Federal Fluminense (UFF). Eles possuem uma base de dados com informações de mais de 100 milhões de brasileiros.
— Descobrimos que há, proporcionalmente, uma incidência maior no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do que no Sudeste e no Sul — afirmou Júlia Pescarini, epidemiologista e pesquisadora do Cidacs/Fiocruz.
Os resultados da pesquisa já foram publicados pelo periódico”The Lancet Global Health” dentro do artigo “Socioeconomic determinants of leprosy new case detection in the 100 Million Brazilian Cohort: a population-based linkage study”.
O estudo aponta que moradores das regiões Norte ou Centro-Oeste têm de cinco a oito vezes mais chances de contrair a doença e que pessoas em situação de pobreza (sem renda ou com renda per capita abaixo de R$ 250 por mês) apresentaram um risco 40% maior em relação aos indivíduos que ganham acima de um salário mínimo.
Até a década de 1960, a hanseníase era tratada por meio da internação compulsória no Brasil. A doença atinge, ainda hoje, 200 mil pessoas por ano, sendo que, a cada dez novos casos no mundo, um ocorre no Brasil, de acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/ONU).
— A hanseníase não acontece somente nos grupos em situação de pobreza, porém, na parcela mais pobre da população analisada, as pessoas que apresentaram os piores níveis de escolaridade, renda, ocupação, moradia e de cor preta estão sob maior risco — afirma Joilda Nery, da UFBA, que também participou da pesquisa.
Quando analisados somente os dados de pessoas com até 15 anos, crianças de negras possuem 92% mais risco de adoecer do que as brancas — essa taxa é de 40% quando incluída a população adulta. A aglomeração de pessoas na mesma casa e a carência de energia elétrica também foram consideradas fatores de risco nessa faixa etária. A ausência de rede pública de saneamento e a residência em moradias de feitas com materiais como taipa e madeira também foram relacionados a um maior risco de adoecimento pela hanseníase.
— A hanseníase é causada por uma bactéria e é transmitida por vias aéreas. Quem tem contato muito próximo com doentes tem maior risco de adoecer — diz Júlia Pescarini, pesquisadora da Cidacs/Fiocruz Bahia.
Doença tem cura
A doença ataca o sistema nervoso periférico e provoca manchas avermelhadas, embranquiçadas e amarronzadas na pele, com perdas de sensiblidade. A hanseníase tem cura, e o tratamento leva de nove a 12 meses.
— Em raríssimos casos pode levar a óbitos ou condições mais severas. O mais frequente é acontecer um diagnóstico tardio e deixar perda de sensibilidade irreversível, com deformações principalmente na pele, no nariz, nos pés e nos dedos da mão.
A pesquisa foi realizada a partir do acesso dos pesquisadores ao Coorte, um banco de dados com informações de 114 milhões de brasileiros construído desde 2003. Nele, estão informações do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) — que registra os casos de hanseníase no Brasil — durante o período de 2007 a 2014. É a primeira vez que dados individualizados são utilizados para estudos de saúde nessa magnitude.
— A base de dados da Coorte de 100 Milhões fornece uma oportunidade única para a comunidade científica estudar, com detalhes, as doenças que atingem a parcela mais pobre da população brasileira e quais as políticas sociais têm sido mais efetivas para o seu controle — afirma Júlia.
O Globo
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