Por: Gabrielly Marqueton
04 de novembro de 2023. 18h:18
Candeias, Bahia.
Nos últimos anos, temos observado grandes transformações na maneira como as crianças se divertem e interagem com o mundo ao seu redor. Com os avanços tecnológicos e as crescentes influências da mídia, é inegável que as formas de brincar das crianças atuais são bastante distintas das crianças de antigamente.
Antigamente, as crianças costumavam passar grande parte de seu tempo brincando ao ar livre, em contato direto com a natureza e utilizando sua criatividade para inventar jogos e atividades. O tempo livre era dedicado a um mundo imaginário, cheio de faz de conta, onde as crianças se transformavam em super-heróis, médicos, astronautas, entre outras infinitas possibilidades. Bonecas, carrinhos, bolas, piões eram alguns dos brinquedos mais populares que estimulavam a imaginação e a interação social entre os pequenos.
No entanto, com o avanço das tecnologias, as crianças passaram a ter acesso a um mundo virtual, com uma infinidade de jogos eletrônicos, tablets, smartphones e outros dispositivos que proporcionam entretenimento imediato. As crianças de hoje têm menos tempo para brincar ao ar livre, explorar a natureza e utilizar sua imaginação sem a interferência de telas digitais. Muitas vezes, as horas de diversão são preenchidas com jogos eletrônicos, onde a interação social é minimizada, dando lugar à interação virtual. Segundo uma cartilha, da Sociedade Brasileira de Pediatria, 21% das crianças e dos adolescentes deixaram de comer ou dormir por causa da internet.
Antigamente x Atualmente
Devido a falta de brincadeiras e brinquedos para serem jogados dentro de casa e por, antigamente, a segurança fora das ruas não ser colocada tão em cheque pela sociedade atual, as crianças brincavam mais fora de casa. Elas não tinham essa variedade de brinquedos como as de hoje e, por isso, tinham que usar a criatividade para criá-los, inventar histórias e jogos. Já nos dias de hoje, as opções de brincadeiras e brinquedos aumentaram muito. Devido à violência nas ruas e ao aumento das tecnologias, as crianças brincam mais dentro das próprias casas. É muito comum entrar no twitter (x) e vê pessoas comentando que hoje em dia não existem mais brincadeiras saudáveis como antigamente e que o celular e outros aparelhos tecnológicos tem grande culpa disso. “Crianças de hoje em dia jamais saberão qual é a sensação de passar horas na calçada conversando com os amigos após passar a tarde inteira brincando na rua.”– Comentário de um internauta no twitter (X) em um post com o vídeo sobre brinquedos nostálgicos dos anos 2000.
As brincadeiras antigas, como pular corda, amarelinha e esconde-esconde, estão cada vez mais raras nos dias de hoje. Os brinquedos tradicionais foram substituídos pelos jogos eletrônicos, que oferecem estímulos visuais e sonoros intensos, mas muitas vezes limitam a criatividade e a interação social das crianças. Ao contrário das brincadeiras antigas, que incentivavam a atividade física, a imaginação e a exploração do ambiente, os jogos eletrônicos tendem a tornar as crianças mais sedentárias e menos participativas. Segundo pesquisa realizada na Universidade de Alberta, localizada no Canadá, a grande incidência de contato virtual dessas crianças pode gerar um aumento de 1,47 vezes na possibilidade de obesidade, comparado a crianças que têm mínima proximidade com tecnologia, caso esse contato seja feito em uma ou duas telas. Já se a proximidade for com três telas ou mais, os números aumentam, dessa vez para 2,57 vezes. E esses prejuízos não se restringem apenas aos danos físicos, A proximidade com a tecnologia na infância pode gerar também prejuízos na educação, convívio social e no processo de aprendizagem. Alguns deles incluem:
- Dependência: As crianças podem desenvolver uma dependência excessiva de dispositivos eletrônicos, o que pode prejudicar a sua capacidade de se envolverem em outras atividades, como brincadeiras ao ar livre, interação social face a face e realização de tarefas não digitais.
- Dificuldade de concentração: O uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode levar as crianças a terem dificuldade em se concentrar em uma única tarefa por longos períodos. Isso pode afetar negativamente o seu desempenho acadêmico, pois a capacidade de foco e atenção é essencial para o aprendizado.
- Problemas de linguagem: A exposição excessiva a telas pode limitar a exposição das crianças a interações verbais e linguagem humana. Isso pode levar a um atraso no desenvolvimento da linguagem e dificuldades na comunicação verbal.
- Isolamento social: O uso demasiado de tecnologia pode diminuir a quantidade e qualidade das interações sociais das crianças. Elas podem preferir passar tempo em frente às telas em vez de brincar e interagir com outras crianças, o que pode levar ao isolamento social e à falta de habilidades sociais importantes.
- Riscos de segurança: A falta de supervisão dos pais e o acesso a conteúdo inadequado podem colocar as crianças em risco de segurança online, como exposição a conteúdo violento, bullying e abuso.
Mas olhando pelo ângulo positivo, as crianças estão muito mais ambientalizadas com a escrita do que antigamente, quando estes momentos eram restritos ao período de aulas nas escolas e aos deveres diários.
É importante que os pais e educadores equilibrem o uso da tecnologia na infância, estabelecendo limites adequados e incentivando atividades não digitais, como leitura de livros, brincadeiras ao ar livre e interações sociais face a face. Envolvimento e monitoramento ativos também são essenciais para garantir a segurança das crianças durante o uso da tecnologia.
Vale ressaltar, no entanto, que nem todas as crianças atualmente estão imersas exclusivamente nas telas. Há uma parcela significativa de pais e educadores que defendem a importância das brincadeiras tradicionais e das atividades ao ar livre no desenvolvimento saudável das crianças. Além disso, há também a busca por equilíbrio, em que as crianças podem explorar as tecnologias, mas também dedicar tempo para atividades físicas e interação social.
A nossa equipe foi a campo e entrevistou 2 crianças que moram em um sítio desde que nasceram e gostam muito de aparelhos celulares mas, também brincam muito ao ar livre com os amigos.
“A minha brincadeira favorita é brincar de bicicleta, gosto muito de jogar no celular mas, me divirto mais quando estou brincando com os meus amigos e os meus primos. E uso o celular apenas para jogar, não assisto nenhum vídeo no youtube”- Disse Guilherme de 11 anos, morador da fazenda mamão localizada em Candeias, Região metropolitana de Salvador
(Foto do Guilherme:)
Embora seja um pouco raro encontrar crianças que gostem mais de brincar com os amigos ao ar livre como o Guilherme, ainda existem outras crianças que tem preferências semelhantes a dele.
“As minhas brincadeiras favoritas são jogar bola e brincar de bicicleta. Uso o celular só para jogar free fire, prefiro brincar com os meus amigos.”- Disse Ruan de 12 anos, vizinho e amigo de infância do Guilherme.
(Foto do Ruan:)
Ruan e Guilherme são a prova de que ainda nos dias de hoje é possível fazer o uso das tecnologias e também brincar de forma mais saudável como antigamente. É tudo uma questão de equilíbrio.
Embora as formas de brincar tenham sofrido mudanças ao longo do tempo, é fundamental que as crianças sejam incentivadas a explorar diferentes formas de diversão, utilizando sua criatividade e interagindo com o mundo real. Brincar deve ser uma atividade prazerosa, que permita o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das crianças, independentemente das transformações tecnológicas que a sociedade vivencia.
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