MADRI — A nova legislatura do Parlamento espanhol, inaugurada nesta terça-feira, tem a maior participação feminina em toda a Europa. A conquista não é pequena para um país que ainda se reinventa, quatro décadas após o fim de uma ditadura que se estendeu por boa parte do século XX.
Com 47% de mulheres no Legislativo, ocupando 165 dos 350 assentos, a Espanha é atualmente o país europeu com a maior presença proporcional feminina no Congresso, ultrapassando a Suécia, que conta com um amplo histórico de promoção das igualdades.
Segundo dados do Banco Mundial, apenas Ruanda, Cuba, Bolívia e México têm congressos com representatividade feminina mais expressiva.
No país ibérico, os direitos das mulheres têm destaque no debate político há mais de uma década. A presença é tamanha que o partido de extrema direta Vox chegou à Assembleia pela primeira vez apoiado por uma plataforma que busca reverter algumas das leis de igualdade.
Os defensores de uma maior igualdade de gênero afirmam que o comportamento masculino — e a lei — ainda têm um longo caminho pela frente. Um exemplo citado com frequência é o caso “La Manada”, quando cinco homens foram acusados de estuprar uma jovem durante o Festival de São Firmino , em 2016. O grupo foi condenado por agressão sexual, mas a Justiça considerou que não havia provas suficientes para sentenciá-los por estupro.
O ponto de vista feminino
Apesar da oposição, até o Vox, legenda abertamente saudosa da moralidade franquista, conta com nove mulheres entre seus 24 deputados.
— Incorporar um ponto de vista feminino deve permitir um melhor diagnóstico de problemas e gerar propostas que sejam mais coerentes com a realidade da vida das pessoas — disse Marisa Soleto, chefe do grupo de campanha pró-igualdade da Fundação das Mulheres. — E isso se aplica a tudo, desde políticas industriais até questões econômicas e sociais.
A participação feminina cresce desde 2007, quando foi aprovada uma lei de igualdade que determina que ao menos 40% dos nomes na lista de candidatos dos partidos sejam de mulheres.
O governo de Pedro Sánchez, que chegou ao poder em junho de 2018, tem mais mulheres ministras do que homens. Sánchez se tornou primeiro-ministro após uma histórica moção de censura que destituiu o então líder Mariano Rayol , condenado por corrupção .
A legenda de Sánchez, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), recebeu o maior número de votos na eleição do dia 28 de abril, masprecisará do apoio de outros grupos minoritários para conseguir governar. Parceiro mais provável do PSOE, a aliança de partidos de esquerda Unidas Podemos, trocou recentemente o seu nome de “Unidos” para “Unidas”, em uma tentativa de demonstrar seu posicionamento favorável aos direitos das mulheres.
Entretanto, a presença feminina na esfera mais alta de poder ainda é pequena. Todos os líderes de legenda na última eleição eram homens.
Antifeminismo
Com suas posições abertamente antifeministas, o Vox desafia as reformas dos últimos anos, aprovadas com apoio multipartidário, que buscam aumentar a igualdade entre os gêneros e combater a violência contra as mulheres.
A legenda deseja acabar com cotas de gênero e leis que acreditam ser discriminatórias aos homens. As medidas incluem uma lei criada em 2004 que determina a criação de tribunais específicos para crimes contra a mulher.
Até o Partido Popular, parte da centro-direita espanhola e por décadas grande opositor do PSOE, tem demonstrado tendências mais conservadoras no que diz respeito aos direitos das mulheres para atrair eleitores com perfis mais tradicionais.
A legenda havia declarado compromisso com a igualdade de gênero e o combate da violência contra a mulher em seu manifesto de campanha. Contudo, Pablo Casado, líder do Partido Popular, afirmou que o grupo não participaria das manifestações no Dia Internacional da Mulher, em março, por considerar que os partidos de extrema esquerda estariam utilizando a data para estimular uma guerra entre os sexos.
O Globo [sg_popup id=”11″ event=”onload”][/sg_popup]
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