O candidato à Preisidência da República Ciro Gomes (PDT) foi o segundo entrevistado na sabatina do Jornal Nacional, na noite desta terça-feira (23). Além de negar ter xingado ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente também abordou os seguintes assuntos:
O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, disse nesta terça-feira (23), em entrevista ao Jornal Nacional, que defende governar utilizando plebiscitos, para superar a “crise eterna” gerada pela aliança dos governos com o Centrão.
Ciro também propôs criar uma “Lei Antiganância”, mecanismo que consideraria uma dívida liquidada caso o devedor pagasse, por causa dos juros, duas vezes do valor original.
O candidato do PDT falou ainda de:
criar um programa de renda mínima de R$ 1 mil por família
taxar grandes fortunas
acabar com a reeleição
superar erros dos últimos governos que, segundo ele, levaram o país para a fome e a informalidade
Ciro foi o segundo candidato a participar da série de entrevistas do JN. Candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL) foi entrevistado na segunda (22). Os próximos serão Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na quinta-feira (25), e Simone Tebet (MDB), na sexta-feira (26).
Foram convidados os cinco candidatos mais bem colocados na pesquisa divulgada pelo Datafolha em 28 de julho. André Janones (Avante), que estava entre os cinco, retirou a candidatura.
Um sorteio realizado em 1º de agosto com representantes dos partidos definiu as datas e a ordem das entrevistas.
Plebiscitos
Logo no início da entrevista, Ciro disse que pretende mudar o modelo político no país. Segundo ele, desde a redemocratização, os presidentes da República se aliaram aos partidos que compõem o chamado Centrão. Para Ciro, isso resultou em corrupção e ineficiência.
O Centrão é um grupo informal dentro da Câmara, formado por parlamentares de direira e de centro-direita, que, ao longo dos últimos anos, se aliaram aos governos independentemente da ideologia, em troca de ocupar postos de poder na administração federal.
“É o que se convencionou chamar de presidencialismo de coalizão, na expressão elegante do Fernando Henrique, ou nessa adesão vexaminosa e corrupta ao Centrão”, argumentou Ciro.
Se a gente não chegar à conclusão de que este modelo é a certeza de uma crise eterna… Lula para cadeia, Dilma cassada, Collor cassado, FHC e o PSDB nunca mais disputaram uma eleição nacional e Collor cassado, e Bolsonaro desmoralizado agora. Minha proposta é transformar minha eleição não num voto pessoal, mas num plebiscito programático. Para que a gente discuta ideias”, continuou Ciro.
Para ele, os plebiscitos vão contornar a necessidade de o presidente se submeter totalmente a líderes do Congresso para governar.
“É um modelo, uma tentativa de libertar o Brasil de uma crise que corrompeu organicamente a Presidência da República. Transformou a Presidência da República em uma espécie de esconderijo do pacto de corrupção e fisiologia do Brasil”, explicou Ciro.
Ao defender os plebiscitos, Ciro foi lembrado de que países autoritários e populistas, em especial na América Latina, têm usado plebiscitos para governar.
O candidato disse que vai procurar se inspirar nos modelos que dão certo ao redor do mundo.
“Olhando mais para a Europa e para os Estados Unidos do que para a Venezuela. Acho o regime da Venezuela abominável. É muito claro que repudio o populismo latino-americano. Acho lamentável. [O plebiscito] é uma tentativa de libertar o Brasil de uma crise que corrompeu organicamente a Presidência da República”, afirmou.
Lei Antiganância
A Lei Antiganância proposta por Ciro prevê que, se uma pessoa pagar, por causa dos juros, duas vezes o valor original da dívida, o débito será considerado liquidado.
Segundo ele, isso vai reduzir o endividamento e aumentar o poder de compra e de investimento.
“Das cinco propostas que eu me propus a trazer hoje, eu ainda não lhes falei de uma que é inédita que é a Lei Antiganância. Eu quero colocar uma lei em vigor no Brasil que eu conheço na Inglaterra. Que é assim. Todo mundo do crédito pessoal, do cartão de crédito, do cheque especial etc, ao pagar duas vezes a dívida que tem, fica quitado por lei essa coisa. Essa é polêmica, mas estou apresentando aqui em homenagem ao William Bonner e à Renata, em primeira mão”, afirmou Ciro.
Ciro defendeu uma de suas principais propostas desta campanha: a adoção de um programa de renda mínima no valor de R$ 1000 para famílias carentes.
“O que estou propondo é uma perna de um novo modelo previdenciário. Então, eu vou pegar o BPC, a aposentadoria-rural de muitos brasileiros que ainda remanescem que não contribuíram no passado, o seguro-desemprego e pegar todos os programas de transferência, especialmente o novo Bolsa Família, que é o Auxílio Brasil, transformar em um direito previdenciário constitucional”, afirmou.
Ele explicou que uma das fontes de financiamento do programa vai ser a taxação dos super-ricos”.
“Eu vou agregar para fechar os R$ 297 bilhões dos recursos que já existem, eu vou agregar um tributo sobre grandes fortunas apenas e tão somente sobre os patrimônios superiores a R$ 20 milhões. Entenda bem: só 58 mil brasileiros têm um patrimônio superior a R$ 20 milhões.”
Fome e informalidade
Ao longo da entrevista, Ciro fez duras críticas a dois fenômenos recentes da realidade social do país: a escalada da fome e o aumento da informalidade no mercado de trabalho. Ao tratar dos temas, o candidato voltou a atacar os governos do PT e do presidente Jair Bolsonaro.
“Eu acho que o Brasil vive hoje a mais grave crise, se nós tomarmos em atenção os números do desemprego, da fome. Fome, fome, fome, 33 milhões de pessoas estão com fome, 120 [milhões] não fizeram as três refeições hoje. E há pessoas e grupos políticos responsáveis por essa tragédia. E eu acho francamente que a maior ameaça à democracia é o fracasso dela na vida do povo”, disse Ciro.
A respeito da informalidade, o candidato ressaltou o impacto dessa modalidade de atividade no futuro dos trabalhadores – que, sem carteira assinada e sem educação financeira, chegam à terceira idade sem reservas e sem planos de previdência.
“Nós estamos mandando para a velhice, daqui a 15 anos, 50 milhões de brasileiros que não terão nenhuma cobertura previdenciária. Só eu estou preocupado com isso? Não é possível, a política não pode ser reduzida a essa coisa odienta, sabe? O Bolsonaro é um protesto contra a corrupção e a crise econômica que o PT produziu, agora a frustração com o Bolsonaro e a gente vai voltar ao passado, sabe? O Brasil não aguenta mais isso”, declarou Ciro.
Fim da reeleição
Ciro Gomes foi questionado sobre o impacto real de sua promessa de “abrir mão da reeleição” como forma de facilitar a negociação com o Legislativo. Segundo o candidato do PDT, a perspectiva de reeleição é um dos motores da corrupção e do “toma lá, dá cá” na política nacional.
“O que destruiu a governança política brasileira, nesse modelo que eu estou lhe falando, é a reeleição. O presidente se coloca infenso, com medo dos conflitos, porque quer agradar todo mundo para fazer a reeleição. O presidente se vende a esses grupos picaretas da política brasileira — desculpe a expressão, eu tenho que a pedido da Renata trocar um pouco as expressões. Mas esses grupos de pouco escrúpulo republicano – eu também tenho essas expressões. Porque têm medo de CPI e porque querem se reeleger”, declarou Ciro.
O candidato também foi perguntado se o fato de buscar indicar um sucessor para seu eventual governo, na prática, não significaria o mesmo movimento. Ciro não deu uma resposta taxativa.
“Sim e não. Mas a chave aqui é que naquela reeleição, o povo estará sendo induzido voluntariamente a votar no projeto que começou a produzir resultados positivos. É o que eu sonho para o Brasil. O país estar bombando, crescendo 5% ao ano”, disse.
Polarização ‘odienta’
Ciro foi questionado se o tom duro que ele usa para falar dos adversários na disputa eleitoral não contradiz o compromisso de pacificar o país.
Para Ciro, é preciso apontar os nomes de quem levou o Brasil à crise e superar a “polarização odienta”.
“Eu estou tentando mostrar para o povo brasileiro que essa polarização odienta, que eu não ajudei a construir. Pelo contrário, estava lá em 2018, tentando advertir que as pessoas não podiam usar a promessa enganosa do Bolsonaro para repudiar a corrupção generalizada e o colapso econômico gravíssimo que foram produzidos pelo PT. Isso aconteceu no Brasil e agora, está-se tentando repetir uma espécie de 2018. Portanto, a gente tem que denunciar isso, compreendendo, respeitando”.
Meio ambiente
Para Ciro Gomes, a preservação do meio ambiente e a implementação de uma economia sustentável requer que a população das áreas de florestas sejam treinadas para obter produtividade de maneiras que não sejam o simples desmatamento.
“Nós temos que fazer um grande esforço de retreinamento, de diversificação da atividade produtiva. Por que o nosso povo? Nosso povo só sabe desmatar, pega madeira de lei sensível, corta e ganha dois mil dólares por metro cúbico, dois metros cúbitos de mogno, ele não entende como é que ele vai passar fome, com o filho dele com fome, tendo que ir embora com aquela árvore ali podendo dar dois mil dólares com o contrabando absolutamente grave”, afirmou Ciro.
Saneamento básico
O candidato do PDT à Presidência disse considerar um “avanço” o novo marco legal do saneamento básico, sancionado em 2020, mas disse ter preocupações em relação à regulação.
“Se eu privatizo, a lógica da privatização é o lucro. Ou eu tenho uma regulação forte. Essa é a razão pela qual nós desconfiamos do marco que foi votado. Eu considero um avanço. Foi relatado por um grande brasileiro, o senador Tasso Jereissati. Mas a nossa preocupação é que não está nesse marco o cuidado com isso. Se eu privatizo o filé, por exemplo devolveram o Galeão. O Galeão foi concedido. Qual o problema de ser concedido o aeroporto? É o marco regulatório. Devolveu, fracassou”, disse.
Ciro, no entanto, disse considerar que o Estado pode “perfeitamente delegar” a execução de serviços de saneamento ao setor privado.
“A minha compreensão é a responsabilidade é pública, é estatal, mas a execução desse objetivo de universalizar o saneamento básico, abastecimento d’água deve ser delegado a quem for mais eficiente de fazer”, afirmou
“É preciso que a responsabilidade por garantir a harmonia do sistema de saneamento e abastecimento d’água seja do Estado. Mas a execução disso o Estado pode perfeitamente delegar se for possível”, declarou.
BAHIA.BA
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