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Casa e gabinete de Crivella são alvos de operação contra suposto esquema de corrupção

A casa e o gabinete do prefeito Marcelo Crivella foram alvos de uma operação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e da Polícia Civil, na manhã desta quinta-feira. O celular de Crivella foi apreendido. Os agentes cumprem um total de 22 mandados de busca e apreensão expedidos pela desembargadora Rosa Maria Helena Guita, relatora do caso no Tribunal de Justiça. Equipes também estão em endereços ligados ao ex-senador Eduardo Lopes, ao empresário Rafael Alves e a Mauro Macedo, ex-tesoureiro da campanha de Crivella ao Senado.

 

A ação é um desdobramento da Operação Hades, que investigou o “QG da Propina”, um suposto esquema de cobrança de propina para a liberação de pagamentos da Prefeitura do Rio de Janeiro, que teria a Riotur como balcão de negócios. A primeira operação, em 10 de março, mirou o ex-presidente do órgão Marcelo Alves; o irmão dele, Rafael Alves; e o empresário João Alberto Felippo Barreto, o João da Locanty, todos suspeitos de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

 

Um carro da Polícia Civil deixou o Palácio da Cidade, em Botafogo, por volta de 7h20m. Uma equipe também esteve no condomínio onde mora o prefeito Marcelo Crivella, na Península, na Barra da Tijuca. Crivella acompanhou as buscas, entregou o celular e depois saiu para cumprir agenda externa. Pouco antes das 7h, três carros do Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) chegaram à sede da Prefeitura do Rio, na Cidade Nova. Dois entraram pela lateral do prédio, enquanto o terceiro ficou estacionado na porta principal. Às 9h30, deixaram o local carregando um malote.

 

O empresário Rafael Alves foi citado em delações como suposto pagador das propinas. Sua atuação aconteceria na Riotur. Como a investigação constatou, ele utilizava uma sala do órgão, na Cidade das Artes, na Barra, para receber os empresários interessados. Segundo delação premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso pela operação Câmbio, Desligo no ano passado, “Rafael Alves viabiliza a contratação de empresas para a prefeitura e o recebimento de faturas antigas em aberto, deixadas na gestão do antigo prefeito Eduardo Paes, tudo em troca do pagamento de propina”.

 

Agentes chegam com malote de documentos apreendidos durante a operação do MPRJ e da Polícia Civil Foto: Diego Amorim / Agência O Globo
Agentes chegam com malote de documentos apreendidos durante a operação do MPRJ e da Polícia Civil Foto: Diego Amorim / Agência O Globo

Segundo fontes da Polícia Civil, um celular de Rafael Alves foi apreendido novamente na operação desta quinta-feira. Em março um outro aparelho telefônico do empresário já havia sido aprendido.

Mauro Macedo, primo do bispo Edir Macedo e ex-tesoureiro de Crivella, também foi alvo da operação. Em sua residência na Tijuca, Zona Norte do Rio, os investigadores apreenderam um telefone celular. Ele estava em casa com a mulher e recebeu os agentes pouco depois das 6h. Macedo foi tesoureiro da campanha de Crivella ao Senado, em 2008, e foi citado em uma delação sobre o esquema de propina envolvendo a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado, a Fetranspor.

Eduardo Lopes foi senador do Rio de Janeiro pelo Republicanos, ao herdar o mandato de Crivella — que saiu para concorrer à Prefeitura do Rio, e foi secretário de Pecuária, Pesca e Abastecimento de Wilson Witzel.

Agentes também estiveram na casa do empresário Christiano Borges Stockler Campos, na Barra da Tijuca, e encontraram R$ 25 mil em um cofre. Ainda foram apreendidos na residência celular, documentos e os computadores. *(veja correção no fim desta reportagem)

O advogado do prefeito Marcelo Crivella, Alberto Sampaio, disse que o mandato tinha o objetivo de apreender celulares, notebooks e documentos. Ele, no entanto, não confirmou se algo foi mesmo recolhido.

— O prefeito está tranquilo e saiu pra cumprir agenda. Ainda não sabemos o teor da denúncia — disse o advogado. — Acabo de pedir eletronicamente o acesso aos autos.

Endereços residenciais e funcionais

As diligências são cumpridas em endereços residenciais e funcionais de agentes públicos municipais e empresários na capital, nos bairros da Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Tijuca, Flamengo, e em Itaipava e Nilópolis. Segundo o MP, o procedimento policial está sob sigilo.

Carro da Polícia Civil na entrada da Prefeitura do Rio, no Centro da cidade, durante operação Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Carro da Polícia Civil na entrada da Prefeitura do Rio, no Centro da cidade, durante operação Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

O GLOBO ainda não conseguiu falar com a defesa de todo os citados. Desde as 8h, agentes chegam à Cidade da Polícia, Zona Norte do Rio, com malotes. Os policiais civis estão concentrando as apreensões na sede da Divisão de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA).

Na Polícia Civil, a ação é realizada pela Coordenadoria de Investigações de Agentes com Foro (Ciaf/PCERJ). Todo o material apreendido nesta quinta-feira será periciado pelo CIAF e pelo MP. Segundo fontes da investigação, os documentos encontrados poderão resultar em novas investigações.

‘Balcão de negócios’ investigado

As investigações sobre o suposto balcão de negócios – liberação de verbas a empresas mediante pagamento de propína – na prefeitura, iniciadas no ano passado, partiram da colaboração premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso pela operação Câmbio, Desligo. Homologada pela desembargadora Rosa Guita, a delação se referiu a um “QG da Propina” operando dentro da Riotur e apontou o empresário Rafael Alves como o cabeça do suposto esquema no município.

“Rafael Alves viabiliza a contratação de empresas para a prefeitura e o recebimento de faturas antigas em aberto, deixadas na gestão do antigo prefeito Eduardo Paes, tudo em troca do pagamento de propina”, diz Mizrahy no anexo 15 da sua delação.

Na primeira fase do inquérito, marcada pelo cumprimento de 17 mandados de busca e apreensão no dia 10 de março, as investigações teriam encontrado na casa do empresário João Alberto Felippo Barreto, o João da Locanty, um dos empresários que seriam favorecidos pelo “QG”, documentos – planilhas de recebíveis, principalmente – das empresas de serviços com contratos com a prefeitura municipal, mas que o empresário insiste em dizer que não é sócio.

Para comprovar o seu depoimento, o doleiro relatou episódios ocorridos nos dias 10 e 11 de maio do ano passado, logo após sua prisão. Diz que dois funcionários da Riotur, empresa comandada pelo irmão de Rafael, estiveram naqueles dois dias na casa de Mizrahy para “resgatar” com a sua mulher cheques destinados ao pagamento de propina da Locanty. O doleiro os chama de Johny e Thiago no depoimento.

Mizrahy não detalha na delação o destino do dinheiro que diz ter repassado para Alves nem se Crivella teria conhecimento do “QG da propina” descrito pelo delator. A investigação, contudo, já tem em mãos fotos que mostram a proximidade dos dois e a influência de Alves no dia a dia do município.

 

 

 

O Globo