A ausência de reajuste salarial é a justificativa ideal para que um auxílio-moradia de R$ 4.377,73 seja pago a magistrados e membros do Ministério Público mensalmente? Para o juiz Sérgio Moro, ídolo popular após a Operação Lava Jato, é uma desculpa plausível, tanto que ele a usou ao ser questionado pela reportagem do jornal O Globo sobre o benefício constar em seu contracheque, mesmo tendo ele um apartamento em Curitiba (PR). A discussão sobre o pagamento de auxílio-moradia a integrantes do Judiciário brasileiro deve se estender pelo menos até o mês de março, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) deve votar – se não houver novo pedido de vista – uma liminar sobre o assunto, engavetada pelo ministro Luiz Fux em 2014. A benesse dos cofres públicos aos nobres operadores do Direito é mais que o triplo da renda de um trabalhador que recebe um salário-mínimo, atualmente em R$ 954. Mas, ainda assim, para aqueles beneficiários do auxílio-moradia, não chega a ser um dilema moral o pagamento da cifra para aqueles que concentram, em sua maioria, os maiores salários do serviço público brasileiro. Apenas a Bahia despende cerca de R$ 4,95 milhões por mês para pagar o auxílio para 572 magistrados e 559 promotores e procuradores. O valor não sai dos cofres do Executivo, já que o Tribunal de Justiça da Bahia e o Ministério Público da Bahia possuem dotação orçamentária própria. Ainda assim, as constantes reclamações de falta de estrutura vinda dos próprios magistrados, promotores e procuradores poderiam ser menores caso o benefício não estivesse sendo pago por uma decisão liminar, cuja regulamentação fica aquém do esperado para o topo da cadeia do serviço público no país. Um dos entraves em falar sobre o Judiciário brasileiro é a dificuldade dos integrantes do corpo a lidar com críticas. Enquanto é repetida intensamente a imoralidade de membros das Casas Legislativas, a exemplo do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas, receberem benefícios como o próprio auxílio-moradia, quando a discussão envolve os tribunais e parquets não há a mesma indignação. Somos silentes. Se a falta de reajuste salarial serve como justificativa para receber benefícios como o auxílio-moradia em questão, pode perguntar a qualquer servidor público que está há mais de um ano sem aumento o que eles acham sobre o tema. Caso não tenha nenhum parente como beneficiário da cifra ou com pretensão a acesso a ela, tenha certeza que a desculpa não vai colar. Como estamos acostumados a ter heróis para diminuir as agruras de ser brasileiro, por que não torcer também por anti-heróis? Moro fez isso. É uma lógica bem antiga: farinha pouca, meu pirão primeiro.
Fonte Bahia Noticias
More Stories
Inspirado em projetos da Bahia, Governo Federal anuncia construção de 55 policlínicas
Bahia gerou mais da metade dos empregos formais do Nordeste em fevereiro
Candeias e Madre de Deus terão mutirão de reconhecimento de paternidade em abril