Tomada por grande emoção e uma casa legislativa lotada, a Câmara de São Francisco do Conde, celebrou os nove anos de existência do Campus do Malê da Universidade Integrativa Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), na cidade.
O vereador Marivaldo Amaral, proponente da sessão especial, rememorou os esforços municipais para que um projeto de universidade como a Unilab se instalasse no município de São Francisco do Conde. Ele ainda destacou a importância da Unilab/campus dos Malês na promoção de um conhecimento decolonial e antirracista. “Crescer e fortalecer a Unilab é antes de tudo fortalecer um projeto de cidade melhor, sociedade melhor e região melhor, que possa cada vez mais fazer justiça social com nosso povo”, ressaltou o parlamentar.
Durante a sessão especial, o discente angolano Alonso Carlos Artur, representante estudantil do campus dos Malês, destacou as singularidades do projeto da Unilab, que abarca 8 territórios nações e diversas territorialidades. “A Unilab se destaca porque foca no conhecimento afrocentrado e mostra que podemos contribuir na construção de novas epistemologias e novos saberes. Saberes estes que engrandecerão nosso meio, feitos por homens e mulheres negras que se entendem como negros, e não como pessoas que de alguma outra forma escapam da sua identidade e de sua territorialidade”, sublinhou Artur.
O estudante também apontou a importância da Unilab/campus dos Malês na vida de quem passa pela instituição. “Nós viemos aqui com uma percepção dos nossos países diferente da que temos hoje. Muitos de nós sabem mais ou compreenderam mais sobre a história do próprio país aqui na Unilab, porque sempre, desde muito cedo, tivemos na academia de nossos países um estudo do conhecimento eurocentrado”, destacou.
O representante dos técnico-administrativos em educação da Unilab/campus dos Malês Norberto Magalhães apontou aprendizados que a Unilab proporciona e, também, os desafios trazidos pelas especificidades dessa universidade no contexto brasileiro e internacional. “Temos que caminhar não mais para ser considerada uma instituição nova, mas caminhar como uma instituição que está em busca de consolidação e, pra isso, dependemos dos nossos parceiros do território”, apontou. Ele também destacou a importância do diálogo com o território e de um ensino de qualidade para a melhoria de vida das comunidades acadêmica e que estão ao redor. “Esse é um desafio que São Francisco abraça junto à Unilab e esse gesto aqui é muito simbólico em relação a isso”, disse.
O diretor do Instituto de Humanidades e Letras Pedro Leyva lembrou dos desafios e potenciais do campus dos Malês/Unilab e apontou, ainda, uma trajetória de dificuldade histórica de acesso ao ensino superior por parte da população negra e as mudanças nesse processo. “Agora os negros e negras dessa cidade podem estudar, vereadores negros dessa cidade podem ser vereadores e professores de universidade”, apontou. Leyva também pontuou a importância da Unilab/campus dos Malês nesse processo. “Nossos estudantes e nossos professores estamos cumprindo com nosso dever político e acadêmico”, afirmou.
A diretora do campus dos Malês Mírian Reis apontou a trajetória do campus dos Malês/Unilab, que nasce no contexto do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), de internacionalização do ensino superior e da cooperação solidária entre os povos. Ela pontuou, ainda, que a partir da Unilab, o Brasil executa parte do perdão ao povo africano feito pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, em Senegal, quando reconheceu dívida brasileira com a África. “Uma universidade criada como uma ação de reparação pelos danos sociais provocados pela escravidão é também um lugar de reconstrução da identidade brasileira, porque se propõe a pensar o Brasil a partir do legado africano para o povo que aqui se constituiu”, afirmou Reis. Ainda segundo a diretora, “uma universidade negra e africana é uma convocação para o combate ao racismo e uma efetiva democracia”.
Também na sua fala, Reis apontou as dificuldades, as conquistas e a inserção do campus dos Malês/ Unilab na agenda política atual baiana e federal, o que resultou no recente cadastro no Termo de Execução Descentralizada (TED), para que a Unilab possa receber o crédito orçamentário que viabilizará a retomada das obras no campus dos Malês. A diretora também destacou o papel do campus dos Malês/ Unilab, em São Francisco do Conde, de contribuir para a melhora de indicadores de educação e sociais na região e em outros territórios, a partir de uma formação e atuação de qualidade dos estudantes e egressos. “Nossas excelentes avaliações pelo MEC [Ministério da Educação] refletem nossa expertise em educação antirracista, de currículos decoloniais, atentos às diretrizes do ensino para relações étnico-raciais e as necessidades do Brasil e países africanos que formam nossa comunidade. Isso se expressa magistralmente nas nossas práticas de ensino, pesquisa e extensão”, disse. Nesse processo, a diretora Mírian Reis também destacou o papel da comunidade que faz parte do campus baiano da Unilab. “Os resultados são espelhos do que temos de melhor: nossa gente. Essas pessoas que somos, engajadas e crentes nesse projeto”, afirmou.
Histórico
Nos discursos de membros da Câmara Municipal, foi destacada a luta da ex-prefeita Rilza Valentim para trazer a Unilab para o município de São Francisco do Conde. A vereadora Rosângela Valentim de Jesus traçou com detalhes os caminhos percorridos pela ex-prefeita para que o projeto da campus dos Malês/Unilab se concretizasse no município, trajetórias essas que envolveram conversas e negociações com ministros e autoridades ligados à educação. “A luta pra que uma universidade viesse pra São Francisco do Conde é antiga, não é de agora, é de muitos anos”, apontou a Rosângela Valentim. A vereadora também destacou o papel do campus dos Malês/Unilab para São Francisco do Conde. “Nosso povo precisa reconhecer e entender a importância dessa universidade. Mas a gente vai entender lá na frente. A história vai contar. O município agradece”, afirmou a vereadora.
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