Não é de hoje que os empresários do ramo do entretenimento se queixam de falta de diálogo com o secretário de Turismo da Bahia, Fausto Franco. Mas o que eram críticas veladas ou de bastidores, agora tomaram uma dimensão muito maior em decorrência de uma declaração considerada precipitada e infeliz de Franco durante entrevista a uma rádio de Salvador.
O secretário declarou não acreditar que teremos São João ou até mesmo Carnaval, uma festa organizada majoritariamente pela prefeitura de Salvador, em 2021. A fala deixou o trade do entretenimento indignado, sobretudo os empresários do forró que já amargaram prejuízos milionários ano passado em decorrência do cancelamento dos festejos juninos por causa da pandemia do novo coronavírus.
Procurado pela reportagem, o empresário Mario Paim subiu o tom contra o secretário e definiu Fausto Franco como “pior secretário que turismo que já viu”. “Na verdade eu não acredito como um governador tão ativo , tão competente, tão antenado com Rui Costa ainda tem um secretário como ele. O secretário de Turismo mais inoperante que eu já conheci! Nem parece que ele já trabalhou no segmento.”
Já o empresário Marcelo Britto, da Salvador Produções, salientou que aguardar o plano de vacinação é fundamental antes de qualquer declaração sobre cancelamento do São João. “Ficamos chocados com a declaração do secretário. De forma infeliz ele fez esse comunicado sem necessidade nenhuma de falar sobre São João, até porque o momento não é de falar de São João, de Carnaval. Temos que aguardar todo plano de vacinação de nosso estado e seguir essas orientações após esse plano. Agora, criar uma situação desconfortável e temerosa para o trade, pra toda a cadeia produtiva cultural, de São João, de Carnaval, de nossa musicalidade, é um absurdo. Não adianta ele jogar medo para as pessoas, as pessoas já estão acostumadas e sabendo que só vamos ter a retomada realmente com a vacina”.
Britto foi além ao considerar “infeliz” e “irresponsável” o comentário de Fausto Franco: “qual o intuito do secretário falar isso agora? O próprio governador tem obtido boas respostas em relação ao plano de vacinação. Sabemos que iniciando o processo de vacinação em fevereiro, março, abril, maio, podemos ter um excelente São João e até mesmo um Carnaval em Julho. Agora, é infeliz e irresponsável o secretário falar sobre adiamento ou cancelamento do São João sem saber as consequências que virão com a vacinação em nosso estado”.
Neto Ferreira, que também atua no ramo do entretenimento, inclusive ao lado de artistas de forró renomados como Solange Almeida, também considerou a declaração precipitada e reclamou da falta de diálogo do secretário com o trade. “Foi uma declaração precipitada. Eu acho que existe um distanciamento do secretário em relação ao trade do entretenimento. Ele não conversa com o trade. Sem diálogo é muito difícil qualquer governante abrir as portas pra nós. O que a gente do entretenimento pede é diálogo. Nós não somos os vilões da pandemia. Se um evento aglomera, o transporte público também aglomera, shoppings aglomeram, tudo que envolve movimentação de pessoas termina aglomerando. Nós estamos aqui preparados pra voltar a fazer eventos com protocolos, seguindo regras. Isso aconteceu em Natal, com o evento de Wesley Safadão e a produtora lá deu um show, as pessoas em seus cercados, filas virtuais de banheiro, pedidos virtuais, sem aglomeração. Foi muito menos pior do que um ônibus ou um metrô cheio”.
Neto ressaltou que a segunda onda da Covid-19 aconteceu no Brasil sem a realização dos eventos, que estão sendi tidos como vilóes. “Estamos virando vilões da pandemia. A segunda onda veio, os casos aumentaram e não teve festa. O que aconteceu agora na segunda onda não se pode culpar produtor de evento porque não houve eventos. O que a gente precisa é conversar, dialogar. Já são dez meses parados. São roadies, produtores, músicos, seguranças todos parados, desempregados. O artista ainda se vira, ganha no digital, o empresário busca outros negócios. Mas os pais de família que direta ou indiretamente dependem do entretenimento estão passando necessidade. Então, o que a gente precisa do governo é diálogo, é uma linha de crédito pra essas pessoas, é a revisão de imposto durante um tempo pra que o contratante possa ter uma margem de lucro maior e possa sobreviver”.
Outro produtor que subiu o tom contra foi Mario Paim, que definiu Fausto Franco como “pior secretário que turismo que já viu”. “Na verdade eu não acredito como um governador tão ativo, tão competente, tão antenado com Rui Costa ainda tem um secretário como ele. O secretário de Turismo mais inoperante que eu já conheci! Nem parece que ele já trabalhou no segmento.”
Mario Paim é empresário conhecido no meio do forró (Foto:Divulgação)
O empresário Eric Chequer definiu a declaração como temerária, prematura e infeliz. Na visão de Eric, esta fala do secretário pode fazer com que o setor perca milhões em investimento.
“Se ele soubesse a responsabilidade de uma declaração dessas pode inibir investimentos de empresas nacionais e multinacionais. Inibe que venha recursos, patrocínio… Uma empresa privada precisa antecipar custos e uma declaração dessas pode retirar o São João do orçamento destas companhias”, analisou.
Téo Santana – produtor de eventos com forte atuação em Sergipe, empresário artístico e dono de equipamentos e de estruturas para eventos – adotou o tom otimista, dizendo que tal declaração não poderia ser dada, pois ele acredita que em junho a pandemia estará controlada.
“Acredito que em junho as festividades poderão ser realizadas com tranquilidade. A classe artística precisa trabalhar e a população merece o lazer e manter a tradição também. Vamos aguardar e continuar na torcida para que a pandemia seja vencida e que a vida volte ao normal o mais rápido possível. Os artistas estão prontos para voltar, assim com os produtores e toda equipe que trabalha para a realização dos eventos”, disse.
Artistas também reclamam
O São João é o período do ano em que os forrozeiros lucram mais graças a agenda de shows lotada no período. Del Feliz, um dos artistas mais conhecidos do ramo, também criticou a declaração do secretário.
“Desde o ano passado minha postura foi com o respeito à necessidade de não se aglomerar, e isso não vai mudar, vamos continuar respeitando a vida. Agora, por outro lado, é preciso que os resposáveis pelo estado tenham o mínimo de respeito, de bom senso, porque não estamos falando de uma festa qualquer. Estamos falando da festa mais importante do Nordeste. E não bastasse tudo isso, é a festa que economicamente tem mais importância para a Bahia e para o Nordeste. Não há uma preocupação mínima de respeito com as pessoas que sobrevivem construindo algo que é tão importante”, afirmou.
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